Rio de Janeiro, 19 de julho de 2025 — Silas Malafaia aparece em documentário de Petra Costa chamando Bolsonaro de covarde e exaltando Lula como verdadeiro líder por não fugir do país após condenação.
Malafaia expõe a própria farsa em tela grande
Silas Malafaia não imaginava que, ao falar demais para as câmeras de Petra Costa, revelaria com todas as letras a implosão ética da aliança entre o bolsonarismo e o fundamentalismo evangélico. No documentário Apocalipse nos Trópicos, lançado como desdobramento do premiado Democracia em Vertigem, o pastor surge como figura central — mas não como herói. Ele aparece como o que é: um operador político a serviço de uma teocracia antidemocrática.
O filme documenta o avanço do extremismo religioso como engrenagem da extrema direita no Brasil e escancara os bastidores do projeto autoritário que uniu púlpito, fake news e militares. Em meio a cenas reveladoras, Malafaia protagoniza um dos momentos mais contraditórios do longa: ao comentar a fuga de Jair Bolsonaro para os Estados Unidos após a derrota eleitoral de 2022, dispara: “Eu não concordei. Um líder fica, paga o preço. Taí o Lula. Tudo indicava que ele ia para a cadeia. Fugiu? Não. Postura de um líder”.
Bolsonaro traído pelo próprio messias de palanque
A declaração, gravada em seu próprio escritório, não é apenas um desabafo — é uma confissão pública de frustração. Malafaia, que durante anos vendeu Bolsonaro como enviado divino, agora o expõe como covarde. O contraste é direto e brutal: Bolsonaro fugiu para Orlando. Lula ficou, foi preso, resistiu e voltou eleito. “Fica aí e encara, aguenta o pau”, resume o pastor.
Essa inversão simbólica tem peso político real. Não se trata apenas de divergência pessoal: é o sintoma de uma rachadura entre o núcleo duro do neopentecostalismo e o bolsonarismo decadente. Malafaia, com sua ambição de poder e linguagem de milícia gospel, não descola do autoritarismo, mas reposiciona a narrativa para tentar preservar influência após o desmoronamento da extrema direita.
Petra Costa liga o projeto teocrático ao colapso da democracia
O documentário de Petra Costa, que já incomodou elites com Democracia em Vertigem, aprofunda a denúncia: o avanço evangélico nas estruturas de Estado não é um processo orgânico de fé — é uma tática de poder financiada, armada e orquestrada. Apocalipse nos Trópicos mostra Malafaia ordenando que seus seguranças “dêem um susto” em um motoqueiro que o teria fechado no trânsito do Rio. A cena sintetiza o espírito do projeto: intimidação como método, arrogância como doutrina, impunidade como promessa.
O filme, ao dar voz a personagens como Malafaia sem filtros ou verniz, deixa que eles próprios confirmem o que há anos se denuncia: o fundamentalismo evangélico, quando aliado ao autoritarismo político, não evangeliza — coloniza. E quando se vê traído por seus próprios mitos, muda de posição não por princípios, mas por estratégia.
Um pastor com saudade de cadeia para os outros
A exaltação de Lula por parte de Malafaia é menos um reconhecimento de grandeza e mais um reflexo de seu desejo por martírio seletivo. A fala — “um líder fica, paga o preço, vá para a cadeia ou não” — vem de quem sempre celebrou a prisão do ex-presidente como desfecho divino, e agora se vê obrigado a recuar diante da história. É o reconhecimento de que a fuga de Bolsonaro desmonta toda a retórica de força, coragem e heroísmo que sustentava o bolsonarismo evangélico.
Malafaia, empresário da fé, sabe que precisa de um novo discurso. Mas o filme de Petra Costa entrega o velho Malafaia: agressivo, vingativo e autoritário. A tentativa de salvar sua imagem o expõe ainda mais. Não é arrependimento. É cálculo.
Perguntas e Respostas
O que Silas Malafaia disse sobre Bolsonaro?
Chamou de covarde por fugir para os EUA após a derrota eleitoral.
Malafaia elogiou Lula?
Sim. Disse que Lula teve “postura de líder” por não fugir da prisão.
Onde está essa fala?
No documentário Apocalipse nos Trópicos, de Petra Costa.
Qual o papel de Malafaia no filme?
Figura central na relação entre fundamentalismo religioso e extrema direita.
O que revela o documentário?
Que a ascensão evangélica é parte de um projeto de poder autoritário no Brasil.