A defesa do impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ganhou tração em colunas da grande imprensa após reportagens sem apresentação de provas materiais.
Depois de Merval Pereira, foi a vez de Joel Pinheiro da Fonseca, da Folha de S.Paulo, tratar a destituição como possibilidade legítima.
Em artigo publicado na segunda-feira (22), Joel Pinheiro afirmou que discutir o afastamento de um ministro do Supremo não configura, por si só, ataque à democracia.
O texto ignora que a reportagem de Malu Gaspar, embora grave, não apresenta provas contra Moraes.
A tese do impeachment “despolarizado”
Para o colunista da Folha, o fato de o Supremo ter atuado contra uma trama golpista não coloca a Corte acima da lei. Segundo ele, ministros devem observar “a mais perfeita imparcialidade” e uma conduta “irretocável”.
O economista sustenta que o debate foi contaminado pela polarização política após decisões de Moraes contra Jair Bolsonaro. Ele menciona sanções impostas pelos Estados Unidos e posteriormente revogadas, que teriam “envenenado” o ambiente público.
Contrato e insinuações
No centro do artigo está o contrato entre o Banco Master e o escritório da esposa de Moraes, Viviane Barci, no valor de R$ 129 milhões. Joel Pinheiro afirma que o contrato seria genérico e sem detalhamento, além de alegar inexistência de atuação direta da advogada no banco.
O colunista também menciona a reportagem que atribui a Moraes um pedido ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para autorizar a venda da instituição. “Se foi isso mesmo, é grave”, escreveu, sustentando que pedidos de um ministro do STF não podem ser tratados como conversas informais.
Merval inverte o ônus da prova
Na Globo, Merval Pereira elevou o tom ao exigir que Moraes prove a própria inocência. Em artigo, o colunista ignorou o princípio de que o ônus da prova cabe ao acusador.
“A revelação de que o ministro se encontrou com o presidente do BC para fazer pressão a favor do banco Master é muito séria”, escreveu Merval, atribuindo às denúncias — e não à espetacularização — a suposta perda de credibilidade do STF.
Para o comentarista, a ausência de negativa oficial do ministro transformaria o caso em “crise política” e justificaria o impeachment. Merval defendeu Malu Gaspar, afirmando que a jornalista “não divulga leviandades”.
Contestação e versão oficial
Há, contudo, outra explicação para as menções ao Banco Master. Segundo Daniela Lima, do UOL, confirmada pelo próprio Gabriel Galípolo, o tema das conversas foi a Lei Magnitsky, aplicada pelos Estados Unidos contra Moraes.
O presidente do Banco Central afirmou que os contatos ocorreram de forma amistosa e não envolveram pedidos relacionados à venda ou à liquidação do banco. A venda ao BRB foi vetada em setembro de 2025, e a liquidação ocorreu em novembro.
O eco da Lava Jato
O episódio também foi explorado por Marcelo Bretas, ex-juiz da Lava Jato aposentado compulsoriamente pelo CNJ. Ao comentar a reportagem, Bretas reproduziu o artigo 321 do Código Penal, sobre advocacia administrativa, sem apresentar provas ou imputação formal.
Nota de Alexandre de Moraes
Alexandre de Moraes informou que, em razão da aplicação da Lei Magnitsky, reuniu-se com autoridades do sistema financeiro para tratar das consequências da medida, incluindo manutenção de contas e operações bancárias. Segundo a nota, os encontros não tiveram relação com interesses privados.
