O Enigma do Centrão - Diário Carioca
Atualizado em 24/11/2025 23:58

O Pragmatismo Sai Caro

A “governabilidade” vendida pelo Centrão tem um preço que vai muito além das crises políticas e dos escândalos de corrupção.

O custo mais profundo é o econômico e social. O bloco, por sua própria natureza de defesa do status quo e do acesso ao cofre, opera como um freio estrutural que impede o Brasil de avançar em reformas essenciais.

Este artigo detalha como o sistema de barganha, baseado em cargos e emendas, mina a eficiência do Estado e condena o país à estagnação, sacrificando o desenvolvimento de longo prazo em troca da sobrevivência política imediata de seus membros.


O Sacrifício da Gestão Pública

O loteamento de cargos é a base do poder do Centrão, mas é o maior veneno para a máquina pública, transformando o investimento em desperdício.

A Ineficiência do Segundo Escalão

Quando posições estratégicas em autarquias, superintendências regionais e diretorias de estatais são preenchidas por critérios políticos (fisiológicos) e não técnicos, a capacidade de execução do governo despenca. Programas sociais, obras de infraestrutura e projetos de longo prazo ficam submetidos a:

  1. Interesses Locais: Projetos são priorizados com base no retorno eleitoral para o deputado, e não na necessidade real da região ou do país.
  2. Desperdício e Abandono: A falta de expertise técnica e a troca constante de gestores resulta em obras inacabadas, compras ineficientes e desvio de foco de agências como o Dnit e a Funasa.

O resultado é que o dinheiro público investido sob a influência do Centrão tem um rendimento social e econômico muito inferior ao necessário para tirar o país da crise.


A Paralisia Reformista

A pauta do Centrão é, em essência, conservadora em relação à estrutura de poder. Qualquer reforma que vise reduzir a burocracia, aumentar a eficiência fiscal ou diminuir o poder discricionário do Executivo é sistematicamente travada.

O Veto à Reforma Administrativa

A Reforma Administrativa (que visa reduzir o gasto com a folha de pagamento e aumentar a meritocracia no funcionalismo) é um alvo constante de sabotagem. O motivo é simples: o controle do Executivo sobre o funcionalismo de segundo escalão e a capacidade de nomear apadrinhados são a garantia de sua base política. Reduzir esse poder é atacar o coração do fisiologismo que mantém o bloco vivo.

O Freio na Agenda Fiscal

Embora a Reforma Tributária tenha avançado, o Centrão sempre garante que o texto final preserve nichos de interesse e benefícios fiscais que alimentam suas bases empresariais ou regionais. Além disso, o bloco exerce uma pressão constante por aumentar o volume de emendas de execução obrigatória, dificultando o controle da dívida pública e impondo um freio fiscal constante ao Executivo.


A Solução: A Necessidade de Reformas Estruturais

O único caminho para desmantelar o poder do Centrão é atacar as raízes que o nutrem: a fragmentação partidária e o uso discricionário do Orçamento.

O Brasil só poderá superar a sua estagnação crônica quando conseguir aprovar uma Reforma Política profunda, que:

  1. Fortaleça os Partidos: Reduzindo o número de legendas e forçando a fidelidade partidária.
  2. Elimine o Fisiologismo: Tornando a distribuição de verbas mais transparente, técnica e menos dependente de negociações individuais com deputados.

Sem isso, a “Direita Enrustida” continuará sendo o freio inabalável que garante que, por mais que os ventos da mudança soprem, o movimento real do país será sempre lento, caro e voltado para os seus próprios interesses.


LEIA MAIS: O custo do Centrão é a principal causa da lentidão do Brasil. Para entender a origem e o desenvolvimento desse poder, leia o Artigo do Diário Carioca: O Poder Inabalável do Centrão e a Ascensão da Direita Enrustida.

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JR Vital - Diário Carioca
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.