O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reagiu com ironia às incertezas sobre a concessão de seu visto para os Estados Unidos, afirmando que não está “nem aí” para a possibilidade de veto do governo Donald Trump. Em coletiva nesta terça-feira (16), o ministro aproveitou para criticar duramente bolsonaristas que residem no país norte-americano, em claro reference ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
A fala ocorreu durante o lançamento de um cronograma para integrar o Cadastro SUS ao CPF, em Brasília. Padilha foi convidado para duas agendas internacionais: uma reunião de ministros da Saúde na ONU, em Nova York, e um encontro da Opas, em Washington, mas disse ainda não saber se comparecerá, destacando que precisa acompanhar votações importantes no Congresso Nacional.
Como Padilha justificou a indiferença
O ministro recorreu a um tom deliberadamente irônico, citando o sucesso musical da cantora Luka: “Esse negócio do visto eu tô igual aquela música: ‘Tô nem aí’, sabe? Vocês tão mais preocupados com o visto do que eu, certo? Tô nem aí”.
Em seguida, dirigiu críticas contundentes aos bolsonaristas que se refugiaram nos EUA: “Só fica preocupado com visto quem quer sair do Brasil, ou quem quer ir pra lá pra fazer lobby de traição da pátria, como alguns tão fazendo. Não é o meu interesse, tá certo? Então eu tô nem aí com relação a isso”.
Qual o contexto do conflito diplomático
O endurecimento da política de vistos do governo Trump atinge especialmente integrantes ligados ao programa Mais Médicos, criado em 2013 durante a primeira gestão de Padilha no ministério. No mês passado, o governo estadunidense cancelou o visto da esposa e da filha de 10 anos do ministro.
O Departamento de Estado também revogou vistos de Mozart Julio Tabosa Sales, secretário de Atenção Especializada à Saúde, e de Alberto Kleiman, ex-assessor de Relações Internacionais do ministério. Em comunicado, a embaixada americana descreveu o Mais Médicos como “um golpe diplomático que explorou médicos cubanos, enriqueceu o regime cubano corrupto e foi acobertado por autoridades brasileiras”.
Por que a situação de Lewandowski é diferente
Enquanto Padilha enfrenta incertezas, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, confirmou nesta terça-feira (16) que recebeu autorização de entrada nos Estados Unidos. Com isso, poderá integrar a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia-Geral da ONU.
A diferença de tratamento revela a seletividade da política de vistos norte-americana, que parece visar especificamente autoridades ligadas a programas considerados contrários aos interesses geopolíticos de Washington, particularmente aqueles envolvendo cooperação com Cuba.
O que significa esta crise diplomática
O impasse sobre vistos representa mais um capítulo no complexo relacionamento entre Brasil e Estados Unidos sob os governos Lula e Trump. A seletividade nas restrições evidencia uma política de pressão que usa instrumentos migratórios como ferramenta de coerção diplomática.
Para o governo brasileiro, a postura de Padilha – entre a ironia e o desdém – funciona como uma resposta estratégica que busca minimizar o impacto político do veto americano, ao mesmo tempo que capitaliza o sentimento anti-imperialista junto à base governista.