O deputado federal e pastor Otoni de Paula (MDB-RJ) acusou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro de ser “oportunista” ao afirmar que está impedida de realizar cultos domésticos devido à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A crítica severa expõe uma fissura no campo evangélico e contesta a narrativa de perseguição religiosa cultivada pela família Bolsonaro e seus aliados.
A polêmica eclodiu após Michelle declarar, em culto no domingo (7), que é “cerceada” de orar em sua própria casa. Otoni, que já foi alvo de operação da Polícia Federal por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), foi taxativo ao desmontar o argumento. Ele atribuiu a origem da narrativa “falaciosa, mentirosa e oportunista” ao pastor Silas Malafaia, num raro embate público entre figuras proeminentes da bancada evangélica.
Como a narrativa da perseguição se sustenta
A declaração de Michelle Bolsonaro insinua que a Justiça está violando a liberdade religiosa da família. Entretanto, a prisão domiciliar do ex-presidente impõe restrições de circulação e não proíbe a prática de cultos ou orações dentro do domicílio. A alegação, portanto, carece de base factual e é interpretada como uma estratégia para mobilizar a base fiel e vitimizar politicamente o grupo.
Otoni de Paula, que se define como conservador, foi enfático ao lembrar que já sofreu nas mãos do sistema judicial. “Eu sou a única voz a estar nesse contraponto com eles, única voz dissonante. Porque não quero que levem a igreja para essa vala comum”, afirmou o deputado, defendendo que a igreja não deve ser instrumentalizada para a polarização política.

Por que Otoni de Paula se tornou um crítico
O rompimento do pastor com o bolsonarismo não é recente. Desde o ano passado, Otoni de Paula tem se distanciado publicamente do núcleo duro de Jair Bolsonaro, posicionando-se como uma voz dissonante na direita. Seu ministério, como ele mesmo define, é o “da conciliação, e não da polarização”.
Este posicionamento é um cálculo político astuto. Ao criticar a exploração eleitoral da fé, Otoni busca angariar apoio de um eleitorado evangélico que pode estar cansado do conflito permanente e da associação automática entre igreja e bolsonarismo. Seu apelo direto a Michelle – “deixa a igreja fora disso” – é, na verdade, um recado para todo o campo conservador.
Quais os impactos dessa divisão
A crítica pública de uma figura evangélica como Otoni de Paula à Michelle Bolsonaro é significativa. Ela fragiliza a narrativa unificada de perseguição, mostrando que há divergências mesmo dentro do grupo que supostamente estaria sob ataque. Isso pode esvaziar o poder de mobilização desse discurso junto aos fiéis.
Para o MDB do Rio, partido do deputado, o episódio representa uma tentativa de ocupar um espaço político mais moderado, distanciando-se do bolsonarismo radical. A estratégia visa capitalizar o desgaste de Jair Bolsonaro sem alienar totalmente o eleitorado de direita, oferecendo uma alternativa supostamente mais racional e menos conflituosa.