A Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou nesta quarta-feira (15) ao Supremo Tribunal Federal (STF) a reabertura do inquérito que apura a Interferência De Bolsonaro Na PF.
O caso, arquivado pelo ex-procurador-geral Augusto Aras, volta à pauta após o atual chefe da PGR, Paulo Gonet, afirmar ser necessário investigar com maior profundidade se houve uso indevido da Polícia Federal para proteger familiares e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
De Moro ao STF: o caso que expôs a crise no governo Bolsonaro
A investigação teve origem nas declarações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, hoje senador (União-PR). Em abril de 2020, Moro acusou Bolsonaro de tentar influenciar politicamente a Polícia Federal, buscando acesso a informações sigilosas e pressionando pela troca do então diretor-geral da corporação, Mauricio Valeixo.
“O presidente deixou claro que desejava alguém de sua confiança na PF, alguém com quem pudesse ter acesso direto a relatórios e investigações”, afirmou Moro ao deixar o governo.
A demissão de Valeixo detonou uma das maiores crises institucionais do mandato de Bolsonaro, com impacto direto na relação entre o Executivo e o sistema de Justiça. À época, o STF autorizou a abertura de inquérito para apurar as acusações, mas o caso acabou arquivado em 2023 por decisão de Aras, que alegou falta de provas materiais.
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Agora, o novo pedido da PGR reaviva o episódio e pode devolver o tema ao centro da agenda política e jurídica de Brasília.
Paulo Gonet quer ampliar a apuração
O procurador-geral Paulo Gonet defende que é necessário “verificar com maior amplitude” as supostas interferências, incluindo o uso de estruturas do Estado para acesso indevido a dados e manipulação de investigações.
O documento enviado ao STF menciona também possíveis ligações entre o caso e outras investigações em curso sobre organizações criminosas digitais que atacaram autoridades e instituições, com uso da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
“Os elementos reunidos indicam a conveniência de reabrir a investigação para análise integrada de fatos que podem configurar abuso de poder político”, afirma o despacho assinado por Gonet.
O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, já havia questionado em maio de 2024 se o novo procurador-geral manteria o arquivamento decidido por Aras. Com o novo posicionamento, o Supremo deve decidir nos próximos dias se o inquérito será oficialmente retomado.
Impactos políticos e jurídicos da reabertura
A Interferência De Bolsonaro Na PF sempre foi tratada como um símbolo do conflito entre o bolsonarismo e as instituições republicanas. Para analistas, a reabertura do inquérito pode reforçar a linha de responsabilização de ex-integrantes do governo e abrir caminho para novas denúncias de abuso de poder e obstrução de Justiça.
Além disso, a investigação pode revelar vínculos entre a tentativa de controle da PF e o aparato de espionagem paralelo montado em órgãos do Executivo para monitorar adversários políticos, magistrados e jornalistas.
Nos bastidores do Planalto e do Congresso, a decisão da PGR é vista como uma virada institucional significativa, sinalizando que Gonet pretende resgatar o papel de independência do Ministério Público após anos de omissão.
“Trata-se de uma medida necessária para restabelecer a confiança pública nas instituições e no próprio Ministério Público”, avaliou um procurador ouvido sob reserva.



