Alexandre de Moraes - Foto: Gustavo Moreno / STF

Brasília, 3 de junho de 2025 – O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, afirmou nesta terça-feira que o Brasil é um país soberano e que suas instituições saberão se defender de “inimigos nacionais ou internacionais”. O recado direto, mas sem citar nomes, foi interpretado como uma resposta à escalada de ataques do bolsonarismo e da extrema-direita norte-americana contra ele e contra a própria legitimidade do sistema democrático brasileiro.

Relator do inquérito da tentativa de golpe que tem Jair Bolsonaro entre os réus, Moraes é alvo central de campanhas organizadas por parlamentares da extrema direita brasileira nos Estados Unidos, com apoio de aliados de Donald Trump. Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal licenciado e filho do ex-presidente, vem articulando pessoalmente uma ofensiva internacional para sancionar o ministro, buscando respaldo do Partido Republicano e das plataformas digitais que resistem à regulação judicial.


Supremacia constitucional e inflexibilidade democrática

Durante discurso no Tribunal Superior Eleitoral, Moraes afirmou que o Brasil não tolerará ameaças internas ou externas à sua democracia: “Pouco importam as agressões ou quais sejam os inimigos da democracia – sejam nacionais ou internacionais. Um país soberano como o Brasil sempre saberá defender sua democracia”, declarou, em um dos momentos mais enfáticos de sua fala.

Sem mencionar diretamente os EUA ou os Bolsonaro, o ministro fez questão de afirmar que os princípios constitucionais “não se negociam”, citando Abraham Lincoln: “Os princípios mais importantes podem – e devem – ser inflexíveis”. Moraes concluiu afirmando que o TSE, o Judiciário e a Justiça Eleitoral permanecem absolutamente firmes na defesa da ordem democrática.


Bolsonarismo exporta o golpismo e tenta sabotar o Judiciário

Enquanto Moraes reafirma a soberania do sistema jurídico brasileiro, Eduardo Bolsonaro atua nos bastidores da política trumpista. Desde o início do ano, o deputado tenta convencer figuras da extrema-direita dos EUA de que Moraes seria uma ameaça à “liberdade de expressão”, uma retórica conveniente para grandes plataformas como a Rumble e a Trump Media & Technology Group, que enfrentam decisões judiciais brasileiras.

As empresas chegaram a acionar a Justiça norte-americana em fevereiro para não cumprir ordens de Moraes relacionadas à exclusão de contas bolsonaristas acusadas de disseminar fake news. Perderam. O Judiciário dos EUA rejeitou o pedido de liminar, expondo a fragilidade do argumento da “censura”.

Eduardo declarou recentemente que há “avanços” no Congresso norte-americano para aplicar sanções contra Moraes. Mas a reação do Itamaraty foi imediata: qualquer retaliação contra ministros do STF será considerada um ataque direto à soberania do Brasil e pode abalar as relações diplomáticas com os Estados Unidos.


Golpismo binacional: o elo entre Trump e Bolsonaro

A tentativa de internacionalizar o embate contra o Judiciário brasileiro não é apenas retórica: ela reproduz o roteiro do trumpismo após a derrota eleitoral de 2020. Em janeiro de 2021, apoiadores de Trump invadiram o Capitólio dos EUA, contestando o resultado das urnas com acusações infundadas de fraude. No Brasil, um ano depois, o bolsonarismo repetiu a tática com a invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.

Moraes foi peça-chave na contenção das duas ofensivas golpistas: como presidente do TSE, barrou ataques ao sistema eleitoral e, como relator do inquérito da tentativa de golpe, levou à Justiça mais de 30 réus, incluindo Bolsonaro. Também relatou ações que resultaram na inelegibilidade do ex-presidente por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante reunião com embaixadores, onde atacou o sistema eleitoral.


O Judiciário como último obstáculo ao projeto autoritário

A ofensiva bolsonarista nos EUA revela o que está em jogo: não é apenas a reputação de um ministro, mas a sobrevivência de uma estrutura institucional que impediu o avanço de um projeto autoritário. A tentativa de criminalizar Moraes fora do país é, na prática, uma tentativa de deslegitimar o papel do STF como guardião da Constituição.

Além do inquérito do golpe, Moraes comanda investigações sobre a atuação de milícias digitais bolsonaristas e a apropriação ilegal de joias recebidas pelo governo anterior – casos nos quais Bolsonaro já foi indiciado pela Polícia Federal. O Judiciário é hoje o principal freio às investidas do bolsonarismo e das big techs aliadas.


Democracia como alvo das plataformas antirregulação

A ofensiva contra Moraes encontra eco em setores empresariais que lucram com o caos informacional. A resistência das plataformas digitais à regulação – especialmente no combate a fake news e ao discurso de ódio – coloca o Brasil no centro de um embate global. Moraes, com decisões que ordenam a exclusão de contas e responsabilizam usuários, tornou-se um inimigo declarado desses grupos.

A narrativa fabricada por bolsonaristas e trumpistas é simples: defender o caos como liberdade. O que está em disputa, porém, é se a internet continuará sendo um território sem lei, onde se articula do golpe à desinformação, sem qualquer responsabilização. Moraes representa o oposto dessa lógica – e por isso é atacado.

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JR Vital - Diário Carioca

JR Vital

JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.

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