Rio de Janeiro, 18 de junho de 2025 — A Polícia Federal (PF) tenta, sem sucesso, intimar o pastor bolsonarista Silas Malafaia para prestar depoimento em um inquérito que investiga suspeitas de peculato envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Walter Braga Netto. O caso gira em torno do uso de estrutura pública no ato de 7 de setembro de 2022, durante a campanha de reeleição da chapa.
Segundo documentos oficiais, Malafaia foi citado como um dos organizadores do evento, que, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF), utilizou bens e serviços públicos com fins eleitorais. Apesar das tentativas, a PF não conseguiu localizá-lo por nenhum dos telefones cadastrados, tampouco via aplicativos como WhatsApp.
Intimação ignorada
Consta no relatório policial que a tentativa de intimação foi determinada pelo delegado federal Manoel Vieira da Paz Filho, responsável pela investigação. O documento relata que não houve sucesso nos contatos com o pastor. Todos os números associados a ele estão fora de serviço, não atendem ou não possuem cadastro em aplicativos de mensagens.
O depoimento estava agendado para 11 de março de 2025. No entanto, não ocorreu por falta de retorno do investigado.
Trio elétrico vira peça-chave da investigação
Outro ponto que chama atenção na investigação é o paradeiro do trio elétrico utilizado no ato no Rio de Janeiro. A Polícia Federal não conseguiu confirmar a origem, a propriedade nem os responsáveis pela contratação do veículo — que é considerado elemento central na análise de uso indevido de recursos públicos.
Malafaia, por sua vez, afirmou possuir uma nota fiscal referente ao pagamento do trio elétrico usado na manifestação carioca, no valor de R$ 34,7 mil, datada de 5 de setembro de 2022.
Ele declarou que teria arcado com esse custo, mas nega relação com o trio utilizado em Brasília, alegando que a contratação na capital federal ficou a cargo de outro grupo, não ligado a ele.
Uso da máquina pública
A apuração integra um conjunto mais amplo de investigações sobre o uso da máquina pública para promoção pessoal e eleitoral durante o governo Bolsonaro. O foco recai sobre eventos oficiais, como o bicentenário da independência, transformados em palanques eleitorais com recursos públicos.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já havia reconhecido que o evento de 7 de setembro de 2022 teve claro viés eleitoral, com utilização indevida de bens, serviços e recursos estatais para favorecer a campanha do então presidente.
Malafaia na mira
O fato de a PF não conseguir localizar Malafaia intensifica as especulações sobre sua conduta no caso. A situação levanta questões tanto jurídicas quanto políticas, principalmente pela reincidência de figuras ligadas ao bolsonarismo em investigações que envolvem desvio de recursos públicos e afronta às normas eleitorais.
A investigação segue em curso e deve ter novos desdobramentos nas próximas semanas, podendo inclusive gerar implicações criminais tanto para Malafaia quanto para outros envolvidos na organização dos atos pró-Bolsonaro em 2022.
O Carioca Esclarece
Peculato é o crime cometido por servidor público ou equivalente que se apropria ou desvia, em benefício próprio ou de terceiros, bens ou valores públicos.