O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), protagonizou nesta quinta-feira (19) uma cena emblemática — e reveladora — na Marcha para Jesus, na capital paulista. Enrolado em uma bandeira de Israel, símbolo amplamente adotado pela extrema direita evangélica, o aliado de Jair Bolsonaro subiu no trio elétrico, cantou louvores e acenou diretamente à base cristã conservadora que sonha em vê-lo candidato à Presidência da República em 2026.
Acompanhado do prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB), e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça, Tarcísio evitou qualquer declaração direta sobre política nacional. Mas, na prática, o gesto foi um recado claro.
“Ele é um servo de Deus, colocado na política por Deus”, disse dias antes o apóstolo Estevam Hernandes, líder da Igreja Renascer e organizador da Marcha, ao defender abertamente que Tarcísio assuma o protagonismo da direita evangélica na sucessão presidencial.
Bandeiras, fé e política
A 33ª edição da Marcha para Jesus teve clima de show, culto e comício disfarçado. Bandeiras de Israel se misturaram aos cartazes com dizeres religiosos e, claro, palavras de ordem contra o que consideram ser ameaças à “família tradicional” e à “liberdade religiosa”.
O governador, cercado de seguranças usando camisetas do evento, evitou responder à imprensa sobre os rumores de sua candidatura em 2026. Assim que surgiram perguntas sobre política, sua assessoria tratou de encerrar rapidamente a entrevista.
Em cima do trio, Tarcísio preferiu falar genericamente sobre “fé, esperança e o papel da Marcha para o povo cristão”. Mas as imagens falam por si: o governador, sorridente, segurando o microfone, enrolado na bandeira de Israel, abraçado por lideranças evangélicas e aplaudido por milhares de fiéis.
Palanque eleitoral disfarçado
Ao lado de Tarcísio, estavam também o prefeito Rodrigo Manga, de Sorocaba, além de Nunes, que levou até o neto para o palco, numa tentativa óbvia de humanizar sua imagem e fortalecer os laços com o eleitorado evangélico paulistano.
Nunes aproveitou o microfone para fazer um trocadilho simbólico:
“São 33 anos da Marcha, a idade de Cristo, e isso é sinal de esperança para São Paulo”, disse, arrancando aplausos.
Marcha com rosto, bandeira e projeto político
Cinco trios elétricos puxaram a multidão da Praça Coronel Fernando Prestes até a Praça Heróis da Força Expedicionária Brasileira, onde estavam programados shows gospel, pregações e atos de oração.
A bandeira de Israel, que nos últimos anos virou símbolo da direita cristã bolsonarista no Brasil, dominou boa parte do trajeto. A cena, que viralizou nas redes, deixou claro que a Marcha para Jesus, cada vez mais, é um evento onde fé e projeto político caminham juntos — e sem disfarces.
O Carioca Esclarece
O uso da bandeira de Israel em eventos evangélicos no Brasil não é mero acaso. Representa a adoção do discurso do sionismo cristão, uma interpretação religiosa e política que vincula o Estado de Israel às promessas bíblicas. No contexto bolsonarista, tornou-se também um símbolo de identidade conservadora, alinhamento com pautas de extrema direita e oposição ao que consideram ser “ameaças da esquerda, do comunismo e do globalismo”.
FAQ — Perguntas Frequentes
Por que Tarcísio usou a bandeira de Israel?
O gesto é simbólico dentro da ala evangélica conservadora, que adota a bandeira de Israel como expressão de apoio ao Estado judeu e de identificação com o chamado sionismo cristão.
A Marcha para Jesus é um evento político?
Embora tenha caráter religioso, na prática a Marcha se consolidou como um dos principais palanques políticos da direita evangélica no Brasil, reunindo lideranças, candidatos e apoiadores de projetos políticos conservadores.
Tarcísio é pré-candidato à Presidência?
Apesar de negar oficialmente, o nome de Tarcísio é tratado como uma das principais apostas do bolsonarismo para disputar a Presidência em 2026, especialmente após a inelegibilidade de Jair Bolsonaro.
