Brasília, 12 de julho de 2025 — A sobretaxa imposta por Donald Trump contra produtos brasileiros expôs o desconforto da bancada ruralista, aliada de Jair Bolsonaro. A medida foi anunciada como gesto de apoio ao ex-presidente.
Uma fatura constrangedora para os ruralistas
A base ruralista do Congresso amanheceu de saia justa. A tarifa de 50% anunciada por Donald Trump contra produtos do agronegócio brasileiro — como carne, laranja e café — foi justificada pelo republicano como uma demonstração de lealdade a Jair Bolsonaro, que ele voltou a chamar de vítima de uma “caça às bruxas judicial”. O problema? São justamente os aliados de Bolsonaro que agora colhem os prejuízos da medida.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), historicamente alinhada ao bolsonarismo, limitou-se a cobrar uma “resposta firme” do governo Lula. Evitou qualquer crítica ao ex-presidente — mesmo com o setor agro sendo diretamente penalizado por uma medida adotada para blindar seu padrinho político.
Trump impõe a conta, ruralistas hesitam
Segundo interlocutores ouvidos pelo Diário Carioca, o clima entre os ruralistas é de “perplexidade e constrangimento”. Ninguém quer romper com Bolsonaro antes de saber seu peso nas urnas em 2026. Mas também não conseguem explicar ao eleitor do campo por que estão em silêncio diante de uma tarifa hostil, feita em nome da direita brasileira.
Nos bastidores, parlamentares admitem que o gesto de Trump colocou a bancada numa armadilha: se confrontam Bolsonaro, rompem com a base ideológica. Se mantêm o apoio, sacrificam os interesses comerciais do setor que os elegeu.
Lula confronta hegemonia do dólar e irrita agro
As críticas dos ruralistas ao governo se concentraram em declarações recentes de Lula sobre a supremacia do dólar. Durante a cúpula dos Brics, o presidente questionou a dependência da moeda americana nas transações internacionais:
“Quando for com os EUA, ela passa pelo dólar. Quando for com a Argentina ou China, não precisa. Ninguém determinou que o dólar é a moeda padrão. Em que fórum foi determinado?”, afirmou Lula.
A fala desagradou o setor exportador, que teme retaliações de aliados ocidentais — como a que Trump acaba de colocar em prática.
Pedro Lupion: crítica seletiva, silêncio cúmplice
O presidente da FPA, deputado Pedro Lupion (PP-PR), defendeu que “houve um derretimento das relações diplomáticas com os EUA” e culpou o governo federal pela crise. Mas, como outros ruralistas, não comentou o fato de a tarifa ter sido declaradamente motivada pelo apoio a Bolsonaro — o mesmo Bolsonaro que continua sendo reverenciado por parte do agro como “o melhor presidente da história para o campo”.
A contradição é evidente, mas estrategicamente ignorada.
Governo reage, agro pressiona
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, classificou a medida de Trump como “indecente” e anunciou a busca de novos mercados. Mesmo sob fogo amigo, mantém diálogo com a bancada ruralista.
Setores como o de citros, proteínas animais e café pressionam por uma reação rápida, temendo que a sobretaxa afete contratos internacionais e prejudique o escoamento da próxima safra.
Congresso ensaia retaliação econômica
Na tentativa de institucionalizar a reação, o Congresso aprovou a chamada Lei da Reciprocidade Econômica, relatada pela senadora Tereza Cristina (PP-MS). A norma permite suspender concessões comerciais quando outros países prejudicarem a competitividade brasileira.
Aprovada por unanimidade no Senado, a lei dá respaldo para que o Brasil possa responder com medidas técnicas e coordenadas — mesmo que parte da bancada ainda prefira se calar sobre a origem política do ataque.
As informações são do Jornal O Globo.
O Diário Carioca Esclarece
- A tarifa de Trump foi anunciada como gesto de apoio a Jair Bolsonaro.
- A Frente Parlamentar da Agropecuária evitou criticar o ex-presidente, mesmo com impacto direto ao setor.
- A Lei da Reciprocidade Econômica permite retaliação formal a medidas protecionistas estrangeiras.
FAQ (Perguntas Frequentes)
Por que Trump sobretaxou produtos brasileiros?
Para demonstrar apoio político a Jair Bolsonaro, que ele chama de perseguido no Brasil.
Por que a bancada ruralista está constrangida?
Porque é aliada de Bolsonaro, mas agora enfrenta prejuízos causados por uma medida tomada em nome dele.
O Brasil pode retaliar os EUA?
Sim. A Lei da Reciprocidade Econômica permite responder a barreiras comerciais que afetem a competitividade do país.