Verdade Verdadeira

Operação no Rio enfraquece facção, mas abre espaço para milícias, diz ex-ministro da Justiça

“Falta de planejamento e irresponsabilidade expõem o estado a novos perigos”, afirma ex-ministro e comentarista

JR Vital
por
JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Claudio Castro - Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A megaoperação policial realizada nos complexos do Alemão e da Penha, Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortes, não eliminou a organização criminosa do Comando Vermelho, mas a enfraqueceu significativamente, abrindo espaço para a atuação crescente das milícias na região. Esta é a avaliação do comentarista José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça, em participação no programa O Grande Debate, da CNN.

Crítica ao modelo de operações policiais

Cardozo criticou o que considera planejamento isolado e falta de integração entre as forças policiais no Rio. Ele afirmou que a operação foi feita “sem planejamento e de forma irresponsável”, o que comprometeu sua eficácia e agudizou problemas estruturais. Segundo ele, a ausência de coordenação detona um modelo desorganizado e deixa vazios de poder, que são rapidamente ocupados por milícias.

“Quando alguém quer dar voo solo, quando alguém quer atuar por si só, faz um planejamento sozinho e quer que os outros se encaixem e nem solicita o encaixe. Francamente, isso é um absurdo, é equivocado”, afirmou.

Comparação com ações em São Paulo

O comentarista apontou que, em São Paulo, o combate ao crime organizado possui um modelo integrado entre forças federais e estaduais, que atua de forma estratégica e com menor incidência de mortes. Cardozo destacou que essa coordenação assegura que a repressão atinja o núcleo financeiro das organizações criminosas, evitando confrontos mais letais.

“Veja como em São Paulo deu certo: forças federais com forças estaduais planejaram e não entraram na Faria Lima matando as pessoas. Aliás, se entrassem, eu acho que a repercussão seria outra, por que será? Organização criminosa você asfixia financeiramente”, ressaltou.

Dados da megaoperação no Rio

A operação reuniu cerca de 2.500 agentes das polícias civil e militar, com o cumprimento de 100 mandados de prisão e 180 de busca e apreensão em 26 comunidades da Zona Norte. Foram apreendidas mais de uma tonelada de drogas, 118 armas — incluindo 91 fuzis — e resultou na morte de 121 pessoas, entre elas 117 suspeitos e quatro policiais, além da prisão de 113 indivíduos, incluindo 33 de outros estados.

Desafios e consequências

Apesar do impacto inicial, especialistas e autoridades alertam para os riscos de o vácuo deixado pela repressão intensiva favorecer o avanço das milícias, que atuam com apoio político e econômico. O modelo de segurança pública do Rio demanda reformas estruturais, com coordenação entre diferentes esferas de governo, apoio social e estratégias de inteligência para combater o crime de forma eficaz e reduzir a violência.

Seguir:
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.