O Rio de Janeiro se tornou um dos protagonistas em uma nova estratégia global de enfrentamento da crise climática. A cidade está liderando, ao lado da Cidade do México, uma coalizão global para demonstrar como medidas de saúde pública — como o já existente Protocolo de Calor da capital fluminense — são essenciais para proteger a população e garantir a resiliência urbana.
Essa abordagem inovadora, detalhada no novo relatório “O Caso para a Ação: O poder da prevenção para proteger a saúde em um clima em transformação”, mostra que intervenções de baixo custo, como o aumento de áreas verdes, transporte ativo e sistemas de alerta precoce, poderiam salvar até 45 mil vidas por ano na região da América Latina e Caribe. O estudo é a primeira iniciativa do projeto “Cidades Resilientes, Reinventando a Saúde”, parceria da Sustainable Markets Initiative e da Rede de Cidades Resilientes, liderada pelo Grupo Reckitt e a Bupa, com apoio da Escola de Saúde Pública da Universidade Yale, Mode Economics e Sanofi.
O Papel do Rio de Janeiro
O relatório destaca que o Protocolo de Calor do Rio, um sistema de alertas com cinco níveis de risco , serve de referência global. O Rio está usando essa experiência prática para influenciar outras cidades a criarem seus próprios sistemas de resposta a eventos climáticos extremos.
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Thiago Curvello, Chefe Executivo do Centro de Operações e Resiliência do Rio de Janeiro, comentou: “Para uma cidade dinâmica como o Rio, contar com os dados certos é essencial. Este relatório aponta dados e estratégias que podem ajudar a nossa capital a se tornar mais segura e resiliente, além de abrir caminho para ferramentas e orientações que poderão ser aproveitadas por cidades no mundo inteiro”.
Impacto no Brasil e na Região
O estudo, que conta com a participação de outras cidades brasileiras como Porto Alegre e Salvador, alerta que o envelhecimento da população e a crescente incidência de doenças crônicas tornam as cidades mais vulneráveis. A mortalidade por calor extremo, por exemplo, pode aumentar 59% até 2030 na América Latina e no Caribe, enquanto a poluição do ar pode causar 11% mais mortes.
O relatório enfatiza que ações preventivas, como aprimoramentos em saneamento básico e urbanismo ativo, poderiam evitar 12 mil mortes anuais na região por falta de água e higiene, e 13 mil mortes até 2023 pela falta de promoção de estilos de vida saudáveis. Além dos benefícios de saúde, essas medidas gerariam uma economia de US$ 2 bilhões anuais em custos de saúde.
Destaques América Latina e Caribe
Muitas cidades da América Latina, incluindo Rio de Janeiro e Salvador, enfrentam alto risco climático e sanitário, sendo classificadas como “fast-growing cities”:
- Crescimento urbano acelerado
- Altos índices de doenças infecciosas persistentes
- Aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs)
- Vulnerabilidade a calor extremo, enchentes e surtos de doenças transmitidas pela água
A carga de saúde é desigual:
- Populações de baixa renda, mulheres, crianças e idosos sofrem riscos desproporcionais
- Mulheres: 8% mais risco de morte em ondas de calor
- Crianças <5 anos: 10% maior mortalidade por calor e 4x mais risco de morte por falta de água, saneamento e higiene (WASH)
Intervenções urbanas simples podem ter grande impacto:
- Infraestrutura verde e telhados frios → até 34% menos mortes por calor e 15% menos por poluição do ar
- Medidas WASH (filtragem de água, saneamento) → prevenção de 12 mil mortes anuais
- Urbanismo ativo e prescrições sociais → prevenção de 13 mil mortes até 2030
- Sistemas de alerta precoce (como o Protocolo de Calor do Rio) → redução de 13% na mortalidade por calor
Benefícios adicionais:
- Redução de internações
- Alívio da pressão sobre sistemas de saúde
- Diminuição das desigualdades
- Forte retorno econômico
Barreiras regionais identificadas:
- Acesso limitado a financiamento municipal
- Dependência de repasses nacionais
- Lacunas de dados
- Dificuldade em estruturar business cases que atraiam investimentos
Recomendações finais:
- Expandir acesso universal a serviços essenciais (água potável, saneamento, resfriamento urbano)
- Incluir populações vulneráveis (ex.: pessoas em situação de rua) nos programas de resiliência urbana
- Desenvolver ferramentas locais de decisão com dados atualizados, análises de custo-benefício e planos de financiamento inovadores
A coalizão agora trabalha para desenvolver um guia prático para incorporar a equidade em saúde e prevenção diretamente nos planos climáticos, além de ferramentas de avaliação para identificar e priorizar as intervenções.
Kris Licht, CEO do Grupo Reckitt, diz que “à medida que aumentam as pressões sobre os sistemas de saúde, alcançar as pessoas antes que se tornem pacientes, por meio da prevenção, do autocuidado e da adaptação climática, torna-se mais crítico do que nunca. Este projeto integra nosso compromisso de ampliar o acesso à saúde e à higiene em todo o mundo, oferecendo às cidades, ferramentas práticas para implementar intervenções que salvam vidas, aliviam os sistemas de saúde e beneficiam as pessoas e o planeta.”
Já Iñaki Ereño, CEO da Bupa, declara que “a boa saúde começa muito antes do atendimento médico — no ar que respiramos, na comida que ingerimos e nas cidades nas quais moramos. Mas essas bases estão cada vez mais ameaçadas pelas mudanças climáticas,dificultando a manutenção da saúde e sobrecarregando os sistemas de saúde. Na Bupa, acreditamos que a resposta está na prevenção: fortalecer os ambientes, sistemas e modelos que sustentam a saúde. Ao reimaginar cidades com o bem-estar no centro e trabalhar em parceria, podemos ajudar as pessoas a viver mais saudáveis por mais tempo, reduzir desigualdades e construir sistemas de saúde mais resilientes e sustentáveis.”



