Bolsonarista

Ato de Cláudio Castro abriu espaço para crédito do Banco Master fora do teto legal

Quando o decreto amplia margem, o risco escorre direto para a folha.
por 21 de dezembro de 2025
Claudio Castro - Foto: Luis Alvarenga
Claudio Castro - Foto: Luis Alvarenga
Atualizado em 21/12/2025 18:04

Um decreto do governador Cláudio Castro abriu uma brecha inédita no sistema de crédito consignado do Rio de Janeiro, permitindo a expansão do cartão de benefícios Credcesta, produto ligado ao Banco Master, com impacto direto sobre servidores estaduais e aposentados.

Mudança nas regras

O decreto foi editado em maio de 2021 e alterou de forma relevante o funcionamento do crédito consignado no estado do Rio de Janeiro. A norma autorizou que até 20% do salário líquido fosse comprometido com cartões de benefícios, sem que esse percentual fosse contabilizado no limite geral de 35% já existente para outras modalidades.

Expansão sem contrapartida

Na prática, a mudança ampliou o espaço para descontos diretos em folha sem reduzir a margem das operações tradicionais, abrindo caminho para o crescimento do Credcesta, vinculado ao Banco Master.

Autorização acelerada

Menos de uma semana após a publicação do decreto, a Casa Civil autorizou a empresa PKL One Participações a oferecer o Credcesta a servidores e aposentados. O despacho foi assinado pelo então secretário Nicola Miccione, um dos principais auxiliares de Cláudio Castro.

Processo desaparecido

A autorização teve como base um processo administrativo que hoje não pode mais ser localizado no Sistema Eletrônico de Informações do governo estadual. Diferentemente do padrão, o procedimento não aparece nem mesmo como registro sigiloso, sem qualquer referência pública ou interna que permita rastreamento.

Monopólio prolongado

Durante quase quatro anos, a PKL One foi a única empresa habilitada pelo governo fluminense a operar cartões de benefícios com desconto em folha. Apenas em abril deste ano uma segunda companhia foi cadastrada, sem confirmação oficial de início efetivo das operações.

Valores bilionários

Segundo a Procuradoria Geral do Estado, o saldo consolidado de créditos consignados remanescentes ligados à PKL e ao Banco Master supera R$ 1,78 bilhão. O órgão não detalha quanto desse montante está associado especificamente ao cartão de benefícios.

Risco previdenciário

A PGE pede à Justiça a retenção dos repasses para evitar prejuízos ao sistema previdenciário estadual. A preocupação envolve o Rioprevidência, responsável pelo pagamento de cerca de 235 mil aposentados e pensionistas.

Aposta malsucedida

O fundo investiu aproximadamente R$ 970 milhões em letras financeiras do Banco Master, que entrou em liquidação em novembro. A própria procuradoria avalia como remotas as chances de recuperação integral desses recursos.

Juros elevados

Além do impacto financeiro, há questionamentos sobre o custo do crédito. Contracheques analisados indicam juros mensais em torno de 5,5% no Credcesta, acima do teto permitido no INSS e da média do consignado no setor privado.

Silêncio oficial

O governo do Rio de Janeiro não respondeu aos pedidos de esclarecimento sobre o decreto, a autorização do produto e os riscos associados à operação.

JR Vital

JR Vital

JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.