© Tomaz Silva/Agência Brasil

Ana Paula Oliveira acaba de vencer o Prêmio Martin Ennals 2025, o conhecido Nobel dos Direitos Humanos, reconhecida por sua luta contra a letalidade policial e o racismo no Rio de Janeiro.

A cerimônia será em 26 de novembro, em Genebra, premiando uma década de mobilização que nasceu da tragédia da morte de seu filho, vítima de violência policial.

A luta que nasceu da dor e se tornou símbolo nacional

Ana Paula Gomes de Oliveira, aos 48 anos, se tornou referência internacional na defesa dos direitos humanos. Ela perdeu seu filho Johnatha em 2014, baleado pelas costas por um policial militar da UPP de Manguinhos enquanto levava um pavê para a avó. Na época, autoridades tentaram rotular o jovem como criminoso, mas Ana Paula, com provas robustas, desmascarou essa narrativa e garantiu a inocência do filho.

Essa tragédia pessoal virou combustível para uma mobilização incansável. Com sua irmã Patrícia, Ana Paula fundou o Movimento Mães de Manguinhos, que tornou-se uma voz ativa e crítica contra a violência do Estado no Rio. O coletivo apoia famílias vítimas da brutalidade policial, especialmente nas periferias empobrecidas da cidade, denunciando o racismo estrutural por trás das mortes evitáveis.

Justiça em espera e impunidade persistente

Em março de 2024, o julgamento do policial Alessandro Marcelino de Souza, acusado da morte de Johnatha, classificou o crime como homicídio culposo — sem intenção de matar. O recurso da Defensoria Pública pela condenação ainda está pendente, ilustrando a lentidão e as fragilidades do sistema judicial brasileiro frente a casos de violência policial.

Reconhecimento internacional e simbolismo na resistência

A premiação em Genebra reforça a importância da atuação de Ana Paula e do movimento que ela lidera, especialmente após operações policiais violentas recentes no Complexo do Alemão e na Penha, que deixaram dezenas de mortos. Para Ana Paula, o prêmio simboliza, acima de tudo, uma forma de justiça simbólica diante da ausência de responsabilização pelos homicídios cometidos pelo Estado.

“Até hoje ninguém foi responsabilizado pela morte do meu filho — nem o policial, nem o Estado. Mas eu não vou desistir”, afirma a ativista, cuja voz ecoa forte contra a letalidade policial e o racismo estrutural no Brasil.

Mães de Manguinhos: onde a dor vira resistência

O coletivo fomenta o acolhimento de mães enlutadas e a denúncia contínua contra a violência estatal. Para Ana Paula, a militância é também uma expressão do amor materno. “A luta foi a forma que encontrei de continuar sendo mãe do Johnatha, cuidando dele — e isso me levou além.”

Em meio a ameaças e desgaste emocional, Ana Paula reafirma que sua missão transcende o ativismo: é um ato de resistência humanizada e combativa que desafia o autoritarismo e a impunidade.

Com a chancela internacional do Prêmio Martin Ennals, Ana Paula Oliveira solidifica seu papel de liderança no cenário de direitos humanos no Brasil, representando o grito das mães que transformam sua dor em força política e social.

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JR Vital - Diário Carioca
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.