Mobilidade dos idosos depende de projetos com acessibilidade e prevenção de quedas, dizem especialistas

17/06/2021 – 16:31  

Igor Sobral/Prefeitura de Pelotas-RS

Acessibilidade está nas leis, mas nem sempre é seguida por planejadores urbanos

A prevenção de quedas se mostra uma das providências mais urgentes para melhorar a mobilidade e a acessibilidade da população mais velha. A conclusão é dos especialistas reunidos em audiência pública da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (17). Para eles, os benefícios da longevidade só valem a pena se houver autonomia e independência.

Os participantes do debate lembraram que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), esta é a Década do Envelhecimento Saudável, que vai até 2030. Segundo Lucélia Nico, coordenadora de Saúde do Idoso do Ministério da Saúde, o Brasil tem 30 milhões de idosos, ganha mais um milhão deles a cada ano e, em mais de mil municípios, a população predominante tem mais de 60 anos.

Ela mostrou que, de acordo com uma pesquisa da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde feita em 2018, 69,2% dos idosos brasileiros praticam atividades físicas em níveis insatisfatórios.

Prevenção


O ortopedista Marcus Vinicius Dias aponta que os exercícios físicos são uma das medidas para enfrentar dois desafios à boa mobilidade: a artrose e a osteoporose. Ele alerta para a necessidade de medidas de segurança inclusive no ambiente domiciliar, para prevenir as quedas decorrentes da osteoporose, que levam a muitas fraturas de quadril.

“O mais importante é evitar que esse idoso caia e se frature. Uma vez fraturado, a gente tem menos a oferecer”, disse.

Outro estudo divulgado pelo Ministério da Saúde detalha que a prevalência de quedas se dá em mulheres com mais de 75 anos, um grupo que tem medo, por exemplo, de atravessar a rua e reclama do tempo rápido do sinal vermelho dos semáforos.

A socióloga Vania Herédia, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), recomenda que os idosos estejam atentos aos ambientes por onde circulam e conscientes de riscos e obstáculos, como problemas com calçadas e iluminação pública.

“Conhecer o lugar que nós vivemos, identificar os obstáculos que nos cercam, que certamente evitaríamos uma série de problemas em relação à nossa saúde física”, afirmou.

Acessibilidade


Para Maria Lima, arquiteta da Secretaria de Urbanização do Distrito Federal, já existem leis que exigem projetos com acessibilidade, usando conceitos como o desenho universal e as rotas acessíveis. Ela salienta, no entanto, que falta consciência de quem projeta, constrói e fiscaliza.

“Isso precisa ser ensinado nas universidades, exigido pelos órgãos que fazem a aprovação de projetos, porque as pessoas, infelizmente, ainda precisam ser mandadas fazer uma coisa que a gente sabe que é necessário, que é um bem para todos e um dia vai chegar pra gente também”, observou.

Crítica à OMS


Em meio à discussão sobre envelhecimento ativo, a assistente social Lidiane Peres protestou contra decisão recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) de incluir a velhice na Classificação Internacional de Doenças (CID). O presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa, deputado Dr. Frederico (Patriota-MG), também não gostou de saber da notícia.

“Esse alerta serviu para que possamos, aqui na comissão, avaliar que medidas realmente fazer junto à OMS para pedir uma reconsideração, porque entendemos também que a velhice de jeito nenhum pode ser considerada como uma doença; pelo contrário, é envelhecimento saudável”, comentou.

Uma política pública elogiada pelos participantes do debate foi a implantação das chamadas “Academias da Terceira Idade”, equipamentos públicos ao ar livre que promovem a atividade física entre os idosos e previnem as doenças que afetam a mobilidade.

Reportagem – Cláudio Ferreira

Edição – Roberto Seabra