Brasília – Em tempos de retrocessos legislativos, discursos de ódio reciclados em palanques e ataques sistemáticos à diversidade, o Festival LGBTQIAPN+ que toma o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) neste mês de junho faz mais do que ocupar um espaço cultural: ele reivindica o direito de existir, amar e transformar.
É a segunda edição do Festival Identidade em Cena, que estreia no próximo dia 3 de junho e segue até o dia 29, com uma programação ampla e afiada, que desafia o conservadorismo vigente. Serão espetáculos teatrais, exibições cinematográficas, performances musicais, rodas de conversa e intervenções literárias — tudo conduzido por vozes LGBTQIAPN+ que não pedem licença nem silêncio.
Arte, afeto e militância no Mês do Orgulho
O evento é uma resposta estética e política à marginalização. Em vez de responder com lamento, o CCJF oferece palco, luz e microfone para a cultura queer brilhar. A abertura acontece com a roda de conversa “Diversidade no Audiovisual e no Teatro”, mediada por Camila Doudement, do Programa Rio Sem LGBTIfobia, e reúne nomes como a atriz e produtora Wescla Vasconcelos, o artista e pesquisador Matheus Vieira e o cineasta Jesus Borges.
É mais que celebração: é uma contra-ofensiva simbólica aos armários, às igrejas repressoras e às tentativas de apagamento histórico. Como bem resume Maria de Oliveira, diretora da Divisão de Cultura do CCJF:
“É pelo afeto e pelo encontro que seguimos construindo uma sociedade mais justa e plural.”
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Espetáculos que confrontam a norma
O teatro, esse velho aliado da insubmissão, comparece com três montagens provocadoras:
- “A Sala Branca” (6 a 29 de junho): Uma reunião inesperada entre ex-aluno e professora reabre feridas e expõe o passado como força modeladora do presente.
- “Cine Coração” (sábados de junho): Mistura de teatro performativo e cinema sensorial, a peça propõe uma experiência interativa com o público.
- “Expurgo” (às terças e quartas): A narrativa de uma saída do armário conflituosa entre um jovem e sua mãe, com direito a memórias religiosas e traumas transgeracionais.
Trans Cineclube: tela, voz e debate
No front audiovisual, o Trans Cineclube traz sessões nos dias 13 e 20 de junho, com exibição de curtas seguidos por debates com realizadores e artistas trans. A proposta não para no discurso: o evento também oferece acolhimento psicológico, apoio voluntário a pessoas trans e parcerias com coletivos LGBTQIAPN+.
Música e literatura como expressão radical
Na música, o show Afetos Críticos, de Àrt, mergulha nas contradições do amor homoafetivo com uma mistura refinada de Black Music brasileira, R&B, Soul e Pop.
Na literatura, o festival recebe no dia 27 de junho a roda de conversa “O Mundo Editorial e os Autores LGBTQIA+”, com participação dos editores Jean Cândido e Léa Carvalho, além do autor Lucas de Melo. Enquanto debatem as trincheiras e conquistas no mercado editorial, artistas da plateia lerão trechos de suas obras e distribuirão livros ao público.
Mais que festival: ocupação simbólica
O II Festival Identidade em Cena se estabelece como um ponto de resistência cultural contra as investidas conservadoras que tentam aprisionar corpos, calar vozes e reescrever direitos. Sua presença no CCJF, um espaço ligado historicamente à Justiça, torna o ato ainda mais simbólico — e urgente.
Afinal, num país onde a cada 4 horas uma pessoa LGBTQIA+ é agredida, celebrar a diversidade é, por si só, um ato político.
Serviço:
II Festival Identidade em Cena
Data: de 3 a 29 de junho, confira a programação completa no site do CCJF
Valor do ingresso: cada evento possui um valor de entrada, confira no site do CCJF (inclusive, os gratuitos).
Local: Teatro e Cinema do CCJF
Centro Cultural Justiça Federal • CCJF
Avenida Rio Branco, 241 – Centro • Rio de Janeiro (há possibilidade de entrada pela Rua México, 57)
O Carioca esclarece
O que é o Festival Identidade em Cena?
É um festival promovido pelo Centro Cultural Justiça Federal que dá visibilidade às expressões artísticas e políticas da comunidade LGBTQIAPN+ durante o mês de junho.
Quem participa da programação?
Artistas, produtores e intelectuais LGBTQIAPN+, com presença de figuras como Wescla Vasconcelos, Jesus Borges, Matheus Vieira e Àrt.
Como o festival impacta a luta por direitos?
Ao ocupar um espaço institucional com arte e afeto, o evento reforça a resistência cultural contra a LGBTQIAPN+fobia e estimula políticas de inclusão e acolhimento.
Por que o CCJF é um espaço simbólico para esse evento?
Por estar ligado ao Judiciário, a ocupação artística do CCJF tensiona e ressignifica o papel da Justiça na defesa dos direitos humanos e da diversidade.



