O nome oficial mudou, é verdade, mas o gosto, o cheiro e o formato ainda eram de Mundial. Final de ano, final de temporada combina com um jogo decisivo entre campeões, não é? E depois de um ano muito vitorioso, vários títulos importantes (primeiro tetracampeão da Libertadores), um título Mundial para fazer companhia ao de 1981 fazia muito sentido. Afinal, o seu povo pede o mundo de novo… e estava mesmo mais do que na hora de atualizar aquela música-paródia. O problema era só combinar com o melhor do mundo.
Olhando bem a disputa poderia se passar por qualquer obra artística. Como dito, tinha música para chamar de sua, tinha diversos personagens marcantes e o enredo sequer fugia dos temas conhecidos. Quem nunca viu o herói aparentemente mais fraco desafiar o rival mais forte, favorito, e vencer? É o clássico Davi e Golias, é Daniel-san e Cobra Kai, entre outros famosos embates. Poderia ser Flamengo e PSG também. Quem sabe o que o roteirista estava preparando?
A bem da verdade, a vontade de repetir 81 existia, mas estava bem distante de ser possível na mesma medida: os cenários eram muito diferentes. Sergio Cabral, n’O Globo de 14/12/8, comenta que o real desafio do Flamengo naquele ano já tinha ocorrido e Liverpool não era sequer campeão daquele ano – estava na décima posição ou algo do tipo. Apesar de celebrar a vitória, o jornalista aponta que o time de Zico, Adílio e Leandro poderia ter ampliado o placar porque simplesmente dava. Os ingleses estavam desorganizados.
Já o Flamengo, campeão da Libertadores, enfrentaria um dos melhores times da atualidade, campeão da Champions, recheado de estrelas, com destaque para o melhor jogador do mundo, o bola de ouro Dembélé. Os comentaristas eram francos: os brasileiros precisavam sobreviver. E conseguiram, ainda que aos trancos e barrancos.
Escaparam de um gol por uma bola que saiu, um pênalti permitiu que as coisas se igualassem e, jogando com a sorte, impediram que os franceses marcassem – da mesma forma, sem conseguir virar ou aproveitar as chances que tiveram. Passou-se um tempo, os acréscimos, dois tempos, prorrogações, ora um, ora outro time melhor, amarelo pra todo lado. Enfim, sobreviveram. Quando tudo ficou igual e só restava mesmo encarar um goleiro e o gol, a disputa por pênaltis acabou consagrando o goleiro Safonov. Uma saga que poderia ser filme, quadrinhos ou novela. Mas qual personagem da ficção correria tanto quanto Gonzalo Plata?
Em 2025, já não se fala em futebol arte. Ainda existem jogadas isoladas belíssimas, mas são menores, e o Puskás só se espanta mesmo com bicicleta. O que sobressai é o futebol técnico, rígido, toque pra lá e pra cá, lançamentos, mas, quando numa arrancada qualquer um jogador dispara, o coração do torcedor esquece tudo e dispara junto. Esquece-se de respirar, mas, em compensação, agarra-se a Deus e a todos os santos: ninguém está sozinho enquanto a bola não chega ao destino. Como pode não ser arte se ainda provoca tanta emoção? É arte feita com os pés em cima de um tapete verde e do coração das gentes.
Um novo Mundial, que não é Mundial, ainda não veio para o Flamengo. Quem sabe quando virá? O próximo capítulo dessa saga está em suspenso.
Paciência, o torcedor logo acompanhará o seu Mundial local: o Carioca. Afinal, quem é PSG perto do Bangu?
