O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que responderá às ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adotando a mesma postura que, segundo ele, caracteriza os presidentes Lula, do Brasil, e Claudia Sheinbaum, do México: “sem se ajoelhar”.
A declaração foi dada em entrevista à Univision Noticias, na Casa de Nariño, sede do governo colombiano, em meio à escalada da crise diplomática com Washington. O embate teve início após Trump chamar Petro de “líder da droga”, anunciar novas tarifas de importação sobre produtos colombianos e afirmar a redução da ajuda financeira ao país.
“Eu sigo o caminho de Lula, meu professor nesse sentido, e de Claudia: fique firme e indignado. Não se ajoelhe. Jamais se ajoelhe”, disse Petro, em resposta ao jornalista Daniel Coronell.
Segundo o presidente colombiano, o Brasil enfrenta uma situação ainda mais difícil que a Colômbia em relação às tarifas impostas pelos Estados Unidos. Washington aplicou taxas de até 50% sobre itens brasileiros importados.
Petro ressaltou que Brasil, México e Colômbia compartilham desafios semelhantes diante das pressões comerciais e políticas vindas dos EUA, mas que esses países têm conseguido defender seus interesses sem submissão.
“Eu não vou conceder, vou exigir. A Colômbia já concedeu tudo, não tem mais o que conceder”, declarou.
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Lula e Trump: diálogo tenso e negociações
Após meses de tensão, Lula e Trump se encontraram brevemente na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York, no início do mês, e combinaram discutir o tarifaço posteriormente, compromisso reforçado em conversa telefônica recente.
Durante o telefonema, Trump escalou seu secretário de Estado, Marco Rubio, para tratar do assunto com autoridades brasileiras, como o vice-presidente Geraldo Alckmin e o chanceler Mauro Vieira. Lula e Trump podem se encontrar na Ásia nos próximos dias.
A reação firme de Lula às críticas do governo dos Estados Unidos reforça a defesa da soberania nacional como lema, estratégia que tem aumentado sua popularidade conforme pesquisas indicam.
Crise crescente com os Estados Unidos
As tensões entre Bogotá e Washington intensificaram-se desde o retorno de Trump à Casa Branca no início do ano. O republicano acusa a Colômbia de não combater o narcotráfico adequadamente e ameaçou retirar cooperação em segurança e inteligência.
No último domingo, Trump voltou ao ataque, chamando Petro de “traficante de drogas ilegal”. Em resposta, o presidente colombiano classificou as declarações como “chantagem” e ordenou o retorno do embaixador da Colômbia em Washington para consultas.
Petro também exigiu que os Estados Unidos retirem as novas tarifas impostas a 8% das exportações colombianas, que atingem flores, bananas e café — produtos de grande relevância econômica.
“Tirem as tarifas que colocaram nesses 8% das exportações. Tirem-nas. E vamos mais adiante”, afirmou Petro. “A Colômbia já fez todas as concessões que podia. Não tem mais o que entregar.”
Defesa da soberania e crítica à dependência econômica
Petro argumenta que a dependência econômica de um único país, como a Colômbia em relação aos EUA, é “um desastre” e critica a relação assimétrica e colonial.
“O que acontece quando me dizem que vão colocar tarifas na nossa economia? Bom, colocam sobre 8% das exportações. Mas não vão colocar nem no petróleo nem no carbono, porque são viciados em gasolina — junto com a cocaína”, ironizou.
Ele defende que, em vez de impor sanções, os Estados Unidos deveriam ajudar na substituição dos cultivos ilegais por lavouras sustentáveis, como cacau, chocolate e produtos amazônicos.
“Se querem acabar com a cocaína, que ajudem o pequeno produtor colombiano a ter terra fértil e contratos de longo prazo para outros cultivos. É isso que precisamos.”
Petro desafia Trump: “Não aceitamos reis na Colômbia”
Petro reagiu diretamente às acusações de Trump. O republicano, ao reduzir a ajuda e impor tarifas, afirmou que a Colômbia estava “fora de controle”. O presidente colombiano respondeu que esse é justamente o cenário esperado.
“Trump não é rei na Colômbia. Aqui não aceitamos reis. Pode falar comigo de igual para igual, entre republicanos de verdade, como falei com Biden quatro vezes. Mas nos dar ordens? Não, senhor.”
Petro acusou Trump de querer “servos, e não líderes livres”, e disse que ele “não gosta de pessoas livres porque quer ser rei”.
“Com a Colômbia, não. Tivemos presidentes ajoelhados durante décadas, que obedeciam como se fosse direito deles. Se acostumaram mal. Isso acabou.”
Acusações e desmentidos
Trump justificou as sanções afirmando que Petro incentiva a produção massiva de drogas e que a Colômbia se tornou o maior negócio de narcotráfico do mundo. Em resposta, Petro exibiu um mapa da ONU mostrando redução das áreas de cultivo de coca e chamou as acusações de mentira.
“Não é verdade que estejamos inundando o mundo de cocaína. Mentira.”
O presidente colombiano também acusou Trump de usar o combate ao narcotráfico como pretexto para uma intervenção militar na Venezuela.
“É uma desculpa para invadir a Venezuela, porque eles querem ficar com o petróleo. Essa é a verdade. Podem conversar comigo, mas não mandar em mim. A Colômbia está fora do controle deles — e é assim que deve ser.”



