Áudios de WhatsApp obtidos pelo portal Metrópoles revelam o funcionamento de um esquema de devolução de parte de emendas parlamentares supostamente intermediado por Amanda Servidoni, filiada ao PL em Rio Claro (SP). Nas gravações, Amanda pede R$ 100 mil de volta de uma emenda de R$ 300 mil — recursos públicos que, segundo ela, teriam sido destinados a uma prefeitura do interior.
“Ele vai gastar 100k com a pista. E nós estamos dando 300. Desses 300 eu quero pelo menos uns 100. Não quero 10%, filho”, diz Amanda em um dos trechos dos áudios.
As gravações expõem uma prática ilegal e recorrente em bastidores políticos: o retorno em dinheiro de verbas públicas liberadas por meio de emendas. O caso envolve figuras ligadas ao bolsonarismo paulista e reacende o debate sobre o uso político das chamadas “emendas Pix”, mecanismo que tem ampliado brechas para corrupção.
Relação com Valéria Bolsonaro e o governo Tarcísio
Amanda se apresenta nas mensagens como “assessora da deputada estadual licenciada Valéria Bolsonaro (PL)”, atual secretária de Políticas para a Mulher no governo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Apesar da autodeclaração, ela não possui cargo oficial na pasta.
Ex-chefe de gabinete do vice-prefeito de Rio Claro e presidente do projeto social “Mulheres pela Fé” — iniciativa apadrinhada por Valéria Bolsonaro —, Amanda é apontada por interlocutores como intermediária entre prefeituras e parlamentares para negociar emendas.
Um dado chama atenção: o escritório político de Valéria foi inaugurado no mesmo endereço da entidade presidida por Amanda, o que reforça a proximidade entre ambas.
O assessor jurídico de Valéria, Eduardo dos Santos, confirmou que Amanda atua como “assessora regional”, reconhecendo vínculo político, mas negando qualquer envolvimento da secretaria. “A relação entre ambas é de apoio político e amizade”, afirmou.
A Secretaria de Políticas para a Mulher declarou que o caso “não tem relação com a pasta”, ressaltando que as emendas são de responsabilidade da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e das prefeituras. Até o momento, Valéria Bolsonaro não se manifestou publicamente sobre o caso.
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Como funcionava o esquema de devolução de emendas
Nos áudios, Amanda Servidoni cita valores acima do “10% tradicional” e explica que a quantia de R$ 100 mil serviria “para abrir portas” em outras cidades.
“Ele já vai ganhar 100 que vai executar e 100 que vai vir de lambuja. Mas nada certo ele fazer isso para abrir as portas”, diz Amanda em outro trecho.
As conversas mencionam prefeitos, deputados e articulações políticas, embora sem nomes específicos. A própria Amanda reconheceu ser autora das gravações, mas alegou que falava sobre “projetos” e não sobre emendas parlamentares.
Especialistas em controle público alertam que o esquema descrito segue padrões clássicos de corrupção administrativa: prefeitos e intermediários manipulam a execução de emendas, superfaturando obras ou devolvendo parte do valor em espécie.
O que são as “emendas Pix”
As chamadas “emendas Pix” são transferências diretas de recursos a prefeituras, sem necessidade de detalhamento de gasto. Criadas para agilizar a execução orçamentária, tornaram-se porta aberta para desvios e negociações políticas obscuras.
| Tipo de Emenda | Destino | Risco de Desvio |
|---|---|---|
| Emendas Individuais | Projetos específicos com detalhamento | Baixo |
| Emendas Pix | Transferência direta sem controle prévio | Alto |
| Emendas de Bancada | Obras regionais | Médio |
Segundo investigações recentes da Polícia Federal e do Ministério Público, esquemas semelhantes foram identificados em vários estados, com redes de assessores e operadores políticos atuando na intermediação. A falta de transparência e fiscalização efetiva favorece o desvio de milhões de reais destinados a serviços públicos essenciais como saúde, educação e infraestrutura.
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Impacto político e reação
O caso representa mais um golpe na imagem do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, já abalado por denúncias de desvios de recursos públicos e uso político de emendas. A associação direta de Amanda Servidoni a Valéria Bolsonaro e ao governo Tarcísio tende a ampliar o constrangimento político e pode gerar pressão por investigações formais.
Juristas ouvidos pela imprensa lembram que a venda de emendas é crime previsto na Lei de Improbidade Administrativa e pode configurar corrupção passiva, ativa e associação criminosa. A depender do andamento das apurações, Valéria Bolsonaro pode ser convocada a prestar esclarecimentos ao Ministério Público de São Paulo (MPSP).
