O início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete réus pela tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (2), está sendo explorado por aliados do bolsonarismo como um “gatilho” para reforçar a convocação dos atos do Dia da Independência, no próximo domingo (7).
Nos bastidores, parlamentares da oposição admitem que a condenação de Bolsonaro é vista como inevitável — a dúvida seria apenas a extensão da pena, que pode chegar a 43 anos de prisão. Ainda assim, o discurso oficial é de que o julgamento é “político” e “parcial”.
Discurso de vitimização e mobilização
O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), afirmou que deve acompanhar as sessões, mas já antecipa críticas:
“Acho que o jogo já está jogado. Não há imparcialidade nesse julgamento. Não é técnico, não é jurídico, é eminentemente político.”
Na Câmara, deputados preparam uma estratégia coordenada de comunicação nas redes sociais. O objetivo é convocar apoiadores para os protestos de 7 de Setembro e usar o andamento do julgamento como “combustível”.
“Esse julgamento vai ser o grande combustível para o 7 de setembro. Quanto mais absurdos saírem no decorrer, mais fortalece o movimento”, disse à CNN o deputado Zé Trovão (PL-SC).
O deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) defendeu que a oposição unifique o discurso para evitar falas isoladas que possam prejudicar a narrativa de defesa a Bolsonaro.
STF em cinco sessões
O julgamento ocorre na Primeira Turma do STF, composta por Alexandre de Moraes (relator), Cristiano Zanin (presidente da turma), Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux. O colegiado terá sessões nos dias 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro.
Os réus do núcleo central do suposto golpe respondem por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Estratégias da família Bolsonaro
O clã Bolsonaro também se movimenta em diferentes frentes:
- Flávio Bolsonaro (PL-RJ) presidirá sessão da Comissão de Segurança Pública, que ouvirá, por videoconferência, o ex-assessor de Moraes no TSE, Eduardo Tagliaferro.
- Eduardo Bolsonaro (PL-SP), nos EUA desde fevereiro, participa de reuniões com aliados de Donald Trump.
- Carlos Bolsonaro (PL-RJ) articula a estratégia digital para potencializar as mobilizações nas redes sociais.
- Michelle Bolsonaro, presidente do PL Mulher, acompanha as sessões da sede do partido, em Brasília.
Réus do núcleo central
Além de Bolsonaro, também serão julgados:
- Alexandre Ramagem (PL-RJ), deputado e ex-diretor da Abin;
- Almir Garnier, almirante e ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
- Augusto Heleno, general da reserva e ex-ministro do GSI;
- Mauro Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
- Paulo Sérgio Nogueira, general e ex-comandante do Exército;
- Walter Braga Netto, general e ex-ministro da Defesa e da Casa Civil.
Cenário político
Enquanto a oposição tenta capitalizar o julgamento para mobilizar sua base, analistas apontam que a estratégia reforça a narrativa de perseguição política, mas expõe a fragilidade de um campo que aposta em protestos de rua como último recurso diante do risco de Bolsonaro ser condenado e afastado definitivamente da arena eleitoral.
