Brasília, 26 de junho de 2025 – O gesto de solidariedade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ordenou apoio irrestrito à família da brasileira Juliana Marins, morta na Indonésia, contrasta com um dos episódios mais brutais de insensibilidade do governo de Jair Bolsonaro (PL): a recusa em resgatar 70 brasileiros presos em Wuhan, na China, durante o auge do surto de coronavírus em 2020.
Ao conversar por telefone com o pai da jovem nesta quinta-feira (26), Lula afirmou ter determinado ao Itamaraty o “apoio total”, incluindo o translado do corpo ao Brasil — ação que rompeu a posição inicial do ministério, que havia se amparado no Decreto nº 9.199/2017 para negar o custeio.
A postura presidencial foi decisiva para que o Estado brasileiro reconhecesse o valor da dignidade humana mesmo em meio à dor, assumindo o papel que lhe cabe diante de tragédias com repercussão pública e peso emocional coletivo.
Quando Bolsonaro decidiu não agir
No início de 2020, mais de 70 brasileiros estavam isolados na província de Hubei, na China, epicentro da pandemia de covid-19. O desespero das famílias, a pressão da sociedade e os apelos de parlamentares não foram suficientes para sensibilizar o então presidente.
Bolsonaro rejeitou qualquer operação de resgate, alegando “risco à saúde pública” e “dificuldades logísticas”. Chegou a declarar, com frieza, que “não seria oportuno tirar de lá, com todo o respeito. Agora não vamos colocar em risco nós aqui por uma família apenas”.
Não houve telefonema a familiares. Não houve plano de evacuação. Não houve empatia. O Brasil simplesmente lavou as mãos.
Humanidade x negligência: o contraste que não se apaga
A comparação entre os dois episódios revela mais do que uma diferença de decisões administrativas. Expõe duas visões antagônicas sobre o papel do Estado diante da dor de seus cidadãos: uma marcada pela empatia e outra pela omissão.
No caso de Juliana Marins — uma jovem carioca de 26 anos, morta durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia — a resposta de Lula foi direta, afetiva e politicamente relevante. Mesmo diante da restrição legal imposta pelo decreto de 2017, o presidente utilizou sua autoridade para garantir o mínimo de dignidade à família enlutada: o retorno da filha ao seu país.
Quando a dor é usada politicamente
A tragédia pessoal de Juliana, porém, foi explorada por setores bolsonaristas para atacar o governo Lula. Deputados da oposição exigiram o uso de avião da FAB e atacaram o Itamaraty por seguir a legislação vigente. Nenhum deles, no entanto, fez menção ao abandono promovido por Bolsonaro em 2020, quando dezenas de brasileiros suplicaram por ajuda e foram ignorados.
A memória seletiva serve ao oportunismo político — mas não apaga os registros públicos. A recusa em 2020 está documentada. A declaração de Lula em 2025 também.
O Carioca Esclarece
O Decreto nº 9.199/2017 restringe o uso de recursos públicos para transporte de corpos de brasileiros mortos no exterior. Exceções podem ser autorizadas por ordem expressa do presidente da República em casos humanitários.
FAQ – Perguntas Frequentes
O governo é obrigado a pagar pelo translado de brasileiros mortos no exterior?
Não. Segundo o Decreto nº 9.199/2017, os custos são de responsabilidade da família. Exceções humanitárias podem ser feitas por ordem presidencial.
Bolsonaro poderia ter resgatado os brasileiros na China?
Sim. Outros países evacuaram seus cidadãos durante o surto. O Brasil optou por não agir, sob a justificativa de risco interno.
Qual a diferença prática entre os dois casos?
No caso de Juliana, Lula interviu pessoalmente para garantir o mínimo de dignidade à família. Em Wuhan, Bolsonaro lavou as mãos e recusou qualquer ação.

