A ativista brasileira Clara Charf, viúva do guerrilheiro e líder comunista Carlos Marighella, morreu nesta segunda-feira (3), aos 100 anos, de causas naturais. Fundadora e presidenta da Associação Mulheres Pela Paz, Clara estava hospitalizada havia alguns dias e chegou a ser intubada, segundo nota divulgada pela entidade.
Legado de luta e resistência
A organização Mulheres Pela Paz afirmou, em comunicado, que Clara “deixa um legado de lutas pelos direitos humanos e equidade de gênero”. A nota destacou ainda:
“Clara foi grande. Foi do tamanho dos seus 100 anos. Difícil dizer que ela apagou. Porque uma vida com tamanha luminosidade fica gravada em todas e todos que tiveram o enorme privilégio de aprender com ela. Vá em paz, querida guerreira.”
Da juventude comunista ao exílio
Nascida em Maceió (AL), em uma família judia russa que fugiu da Europa, Clara era a mais velha de três irmãos. Mudou-se ainda jovem para Recife, onde perdeu a mãe aos 40 anos, vítima de tuberculose. Aos 16 anos, começou a participar da vida política e, em 1946, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).
No ano seguinte, casou-se com Carlos Marighella, também militante do partido. Ambos foram perseguidos e presos pela ditadura militar instaurada em 1964. Após o assassinato de Marighella, em 1969, Clara foi forçada a se exilar, primeiro em Cuba, onde viveu por dez anos.
Retornou ao Brasil apenas em 1979, com a Lei da Anistia, e passou a atuar intensamente em movimentos pelos direitos das mulheres e pela democracia.
Militância e protagonismo feminino
Em 2005, Clara coordenou no Brasil o movimento “Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo”, criado na Suíça. A iniciativa propôs a indicação coletiva de mil mulheres para o Prêmio Nobel da Paz, das quais 52 eram brasileiras.
Clara também foi candidata a deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em 1982, obtendo 20 mil votos. Embora não tenha sido eleita, continuou atuando em projetos sociais e campanhas de conscientização.
Uma vida pela liberdade
Clara foi descrita por amigos e organizações como uma mulher à frente de seu tempo, que transformou dor em força política.
Mesmo após a perda do marido e os anos de exílio, manteve a convicção de que a justiça social e a igualdade de gênero eram causas inseparáveis.
Raízes e superações
Clara aprendeu inglês e piano na juventude, trabalhou como comissária de bordo na década de 1940 e foi rejeitada pelo pai por vender jornais comunistas e namorar um homem não judeu.
Mesmo enfrentando preconceitos e perseguições, nunca abandonou a militância.
Legado
Clara Charf deixa um legado histórico na defesa dos direitos humanos, da igualdade de gênero e da democracia. Sua trajetória atravessa o século XX como símbolo da resistência feminina diante da repressão política.


