Ignorância sem Limites

Nikolas Ferreira impõe visão negacionista sobre mudanças climáticas no ensino

Deputado tenta institucionalizar negacionismo ao contestar ciência e alterar currículo escolar

JR Vital
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Nikolas Ferreira (PL-MG). Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) apresentou uma emenda ao Plano Nacional de Educação (PNE) para alterar o conteúdo das aulas sobre mudanças climáticas nas escolas brasileiras, mas não se trata de incentivar debate plural, e sim de promover o negacionismo científico. Sob o pretexto de combater uma suposta “doutrinação”, Nikolas tenta institucionalizar uma narrativa que rejeita evidências científicas sólidas, colocando em risco a formação correta dos estudantes sobre um tema crucial para o futuro do planeta.

A proposta do deputado bolsonarista defende que o currículo escolar incorpore uma “multiplicidade de pontos de vista”, mas na prática busca relativizar e enfraquecer o consenso científico mundial acerca da crise climática. A emenda afirma que é necessário “distinguir ciência de ativismo”, quando na verdade tenta desconsiderar o esforço global de cientistas e órgãos oficiais reconhecidos, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), para instruir corretamente a população.

Negacionismo mascarado de pluralismo

Nikolas afirma que não nega a ciência, mas seu discurso segue a linha do negacionismo, ao alegar que a crise climática foi “sequestrada” por uma visão única e que é preciso impedir que um entendimento específico seja visto como verdade absoluta. Ele propaga a falsa ideia de que sua emenda promove o “debate”, quando na verdade o que pretende é criar brecha para discursos que relativizam ou negam o impacto humano na alteração do clima.

Esse posicionamento flerta com o estilo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que chamou a crise climática de “maior farsa” e depreciou estudos científicos internacionais. Declarações similares são frequentes entre apoiadores do bolsonarismo, reforçando a desinformação e dificultando avanços necessários no combate à emergência climática.

Consequências políticas e atraso do PNE

A tramitação do Plano Nacional de Educação foi prejudicada sob a gestão de Nikolas na Comissão de Educação, em 2024, ano em que o plano deveria ter sido aprovado. A articulação da oposição, em conjunto com membros do governo, buscou impedir que a visão negacionista de Nikolas dominasse o debate, associando sua postura radical ao atraso da pauta.

Com Nikolas fora da presidência da comissão, o PNE foi retomado em 2025, mas o conflito entre blocos conservadores e progressistas sobre o tema ambiental persiste. A proximidade da COP30, marcada para Belém, intensifica a disputa ideológica em torno da inclusão das mudanças climáticas no currículo, que ainda sofre resistências da direita.

Essas movimentações colocam em risco a educação científica e desprezam o papel da escola na formação crítica e consciente dos jovens, fundamentais para o enfrentamento das crises sociais, ambientais e econômicas que o Brasil enfrenta.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.