Na Raiz

PF intima Bolsonaro para depor em novo inquérito sobre Carla Zambelli

Ex-presidente depõe enquanto aliada foragida ataca o STF da Europa e entra na lista da Interpol

JR Vital
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Jair Bolsonaro e Carla Zambelli (Foto: Marcos Corrêa/PR)

BRASÍLIA, DF – 5 de junho de 2025 – O cerco jurídico e internacional contra o bolsonarismo se intensificou nesta quinta-feira. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi novamente intimado a depor pela Polícia Federal no inquérito que apura possíveis crimes da deputada foragida Carla Zambelli (PL-SP), acusada de atuar contra o Supremo Tribunal Federal (STF) a partir do exterior.

A nova oitiva coincide com outro depoimento de Bolsonaro no mesmo dia, em que ele também presta esclarecimentos sobre a atuação de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), investigado por tentativa de obstrução de Justiça.

A investigação contra Zambelli foi formalmente aberta na quarta-feira (4), após ela afirmar em entrevista, já fora do Brasil, que pretende “agir contra o STF” a partir da Europa. A declaração desencadeou um novo capítulo na crise institucional entre o bolsonarismo e a cúpula do Judiciário.

Zambelli, foragida e hostil à democracia

A deputada bolsonarista deixou o país logo após ser condenada a 10 anos de prisão por envolvimento na invasão do sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Na ocasião, inseriu uma falsa ordem de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, configurando grave ataque institucional. Desde então, Zambelli passou a agir do exterior com discursos radicais contra o STF.

Com base nessas declarações e na fuga, a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou sua prisão preventiva e a inclusão de seu nome na lista vermelha da Interpol. O pedido foi aceito por Moraes e a inclusão no sistema internacional de captura foi oficializada nesta quinta-feira.

A tentativa de Zambelli de se apresentar como figura política internacional é acompanhada de uma estratégia de blindagem jurídica: a parlamentar afirma possuir cidadania italiana, o que pode dificultar ou atrasar uma eventual extradição. Ainda assim, as autoridades brasileiras consideram o pedido de prisão um marco na repressão a práticas criminosas travestidas de atuação parlamentar.

Eduardo Bolsonaro e a conspiração nos EUA

Paralelamente, Eduardo Bolsonaro também atua no exterior para mobilizar forças políticas internacionais contra o STF. Após viajar aos Estados Unidos, onde mantém proximidade com o ex-presidente Donald Trump, o deputado vem tentando convencer aliados republicanos a impor sanções diplomáticas contra ministros da Corte brasileira — em especial, Moraes.

Segundo apuração da jornalista Andréia Sadi, do g1, Eduardo está sendo investigado por tentar interferir diretamente em decisões judiciais do Brasil com apoio de figuras da extrema direita norte-americana, algo que o Supremo considera uma afronta à soberania do Judiciário nacional.

A convergência das ações de Zambelli e Eduardo fora do país escancara uma tentativa coordenada de internacionalizar a narrativa bolsonarista, transformando foragidos e investigados em “representantes” de um projeto político que perdeu espaço institucional, mas ainda tenta atuar por vias transnacionais.

Bolsonaro, o elo entre os conspiradores

O depoimento prestado hoje por Jair Bolsonaro é parte de uma ofensiva da Polícia Federal que busca mapear redes de influência, comunicação e financiamento entre os principais nomes do bolsonarismo. No caso específico de Zambelli, o inquérito apura se o ex-presidente teve algum tipo de envolvimento ou ciência prévia das ações da deputada, ou se atuou para encobrir ou incentivar sua fuga.

A oitiva também soma-se ao extenso rol de investigações que envolvem Bolsonaro, que já é alvo de múltiplos processos, incluindo tentativa de golpe de Estado, fraude em cartões de vacinação, roubo de joias da União e espionagem ilegal por meio da Abin paralela.

Embora publicamente negue qualquer ligação com os atos da deputada, Bolsonaro mantém apoio discursivo a Zambelli e aos ataques ao Supremo. Internamente, a PF e o STF veem com preocupação o risco de uma rede internacional de desestabilização institucional, semelhante ao que ocorreu com grupos extremistas nos EUA, Hungria e Polônia.

Suprema Corte acua o bolsonarismo internacional

A nova fase das investigações marca um avanço do STF e da Polícia Federal em um terreno que até então parecia inalcançável: o enfrentamento jurídico e diplomático do bolsonarismo transnacional. A inclusão de Zambelli na Interpol e os inquéritos simultâneos contra Bolsonaro e Eduardo sinalizam uma estratégia de sufocamento coordenado da cúpula política do movimento.

Ao recorrer à difusão vermelha da Interpol, o ministro Moraes reforça o entendimento de que os ataques à democracia brasileira não têm fronteiras — e, portanto, também devem ser combatidos em nível internacional. Trata-se de uma resposta direta à tentativa de blindagem jurídica por meio da dupla cidadania e do asilo político informal em países alinhados à extrema direita.

O risco de uma articulação entre parlamentares foragidos e governos populistas estrangeiros é visto por especialistas como uma ameaça à integridade do Estado democrático de direito, com potencial de gerar precedentes perigosos em outras democracias do Sul Global.


O Carioca Esclarece

Zambelli pode ser extraditada mesmo com cidadania italiana?
A extradição pode ser dificultada pela dupla nacionalidade, já que a Itália raramente extradita seus próprios cidadãos. No entanto, a gravidade dos crimes, aliados ao pedido da Interpol, pode levar o país europeu a negociar alternativas, como prisão domiciliar ou cooperação judicial.

Por que a PF investiga Bolsonaro no caso Zambelli?
Porque há indícios de que Bolsonaro mantém vínculos com ações de parlamentares foragidos. A PF quer saber se ele sabia da fuga de Zambelli, se colaborou ou se se beneficiou politicamente dos ataques ao STF promovidos por ela.

O que significa a difusão vermelha da Interpol?
É um alerta internacional para captura imediata. Embora não funcione como mandado de prisão automático, países que respeitam acordos internacionais com o Brasil podem deter Zambelli e iniciar o processo de extradição.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.