Brasília — 8 de agosto de 2025 — Em meio à escalada de tensão comercial com Washington, a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), reafirmou nesta sexta-feira que, embora o Brasil busque manter relações estratégicas com os Estados Unidos, a China e a Ásia ocupam hoje o posto de principais parceiros comerciais do país.
A fala ocorre dias após o governo norte-americano impor um tarifaço contra exportações brasileiras — medida classificada por Brasília como unilateral e incompatível com as regras do comércio internacional.
Ferrovia interoceânica: aposta estratégica com apoio chinês
Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em agenda em Rondônia, Tebet destacou o avanço do projeto da primeira ferrovia a ligar o Atlântico ao Pacífico, conectando a Bahia ao porto de Chancay, no Peru, via Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre. O empreendimento contará com participação direta do governo chinês e visa encurtar prazos e custos logísticos para o escoamento de produtos brasileiros rumo ao mercado asiático.
“A China vai ser parceira do Brasil nesse projeto que interligará dois oceanos. Precisamos dos Estados Unidos como parceiros comerciais, mas não podem se enganar: nosso maior parceiro comercial hoje é a China, é a Ásia”, afirmou Tebet.
Multilateralismo em risco e recado a Washington
A ministra advertiu que o atual cenário internacional é marcado por ameaças ao multilateralismo, exigindo que o Brasil amplie frentes de cooperação e não dependa de um único eixo político-econômico. A fala também funciona como resposta indireta à postura protecionista do governo de Donald Trump, que voltou a adotar barreiras comerciais contra países latino-americanos.
No Planalto, a ordem é acelerar um pacote de medidas para conter os efeitos do tarifaço, previsto para ser anunciado na próxima semana. Nos bastidores, diplomatas avaliam que a aposta em infraestrutura com apoio chinês reforça a margem de manobra do Brasil diante da pressão estadunidense.