A Polícia Federal (PF) detalhou, em relatório que embasa a segunda fase da Operação Unha e Carne, a relação entre o deputado estadual licenciado Rodrigo da Silva Bacellar (União Brasil), o desembargador Macário Ramos Júdice Neto e o cantor Marcelo Pires Vieira, conhecido como Belo. A apuração foca no vazamento de informações sigilosas ligadas à Operação Zargun.
Segundo a PF, as mensagens trocadas entre Bacellar e o magistrado são marcadas por “palavras de afeto e declarações efusivas de carinho”, indicando confiança, lealdade e uma relação que ultrapassa limites institucionais.
“Irmão de vida”
Em conversa datada de 23 de outubro de 2025, Bacellar se refere a Júdice Neto como “irmão de vida” e afirma que a amizade entre eles seria “para a vida”. O desembargador responde em tom igualmente afetuoso, pede que o deputado ligue e descreve a troca como “positiva”.
Para os investigadores, o teor das mensagens reforça a existência de uma relação pessoal sólida entre os dois.
O elo com Belo
O relatório também destaca o envolvimento do cantor Belo, apontado como elo entre Bacellar e Júdice Neto. A PF identificou conversas nas quais o artista expressa carinho, dizendo “eu te amo”, recebendo como resposta o tratamento de “irmão”.
A frequência e a intensidade das mensagens são citadas como indícios de uma relação próxima entre os três, levantando questionamentos sobre a influência do cantor no contexto investigado.
Encontro na véspera da operação
Além das mensagens, a PF aponta que Bacellar e Júdice Neto se encontraram presencialmente em setembro de 2025, na véspera da deflagração da Operação Zargun, em uma churrascaria no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.
No mesmo período, o celular de TH Joias registrou mensagens sobre evasão de provas e destruição de evidências. Para os investigadores, a coincidência temporal, somada a registros de deslocamento e imagens de câmeras de segurança, reforça a suspeita de prejuízo à investigação.
Mandados e prisões
A segunda fase da Operação Unha e Carne resultou em mandado de prisão preventiva contra Júdice Neto e em dez mandados de busca e apreensão contra Bacellar, todos expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A PF apura o vazamento de informações sigilosas que teriam beneficiado a facção Comando Vermelho. Na primeira fase, Bacellar já havia sido preso sob suspeita de repassar dados que antecederam a prisão de TH Joias.
Histórico do magistrado
A situação de Macário Ramos Júdice Neto é considerada mais grave pelos investigadores. Ele havia sido afastado por 17 anos da magistratura por acusações de venda de sentenças quando atuava como juiz federal no Espírito Santo, retornando ao cargo apenas em 2023. Atualmente, está preso na sede da PF no Rio.
Situação de Bacellar
Ex-presidente da Alerj, Bacellar chegou a ser solto por decisão da Casa, mas voltou a ser alvo das investigações nesta nova fase. Ele responde em liberdade, com uso de tornozeleira eletrônica, e segue investigado por suposta participação no esquema de vazamento de informações.
