Brasília, 7 de agosto de 2025 — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, conversaram nesta quinta-feira por cerca de uma hora, em resposta à nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos às exportações dos dois países. A sobretaxa, determinada pelo presidente Donald Trump, foi criticada por ambos os líderes, que anunciaram uma agenda de integração bilateral e reforço da cooperação entre os membros do Brics.
“Reafirmamos a importância em defender o multilateralismo e a necessidade de fazer frente aos desafios da conjuntura, além de explorar possibilidades de maior integração entre os dois países”, afirmou Lula pelas redes sociais.
Visita de Estado à Índia será em 2026
Durante a conversa, Lula confirmou que fará uma visita de Estado à Índia no início de 2026. Para preparar a missão diplomática, o vice-presidente Geraldo Alckmin estará no país em outubro, liderando uma comitiva formada por ministros, empresários e representantes da indústria.
A pauta inclui áreas estratégicas como:
- Energia
- Defesa
- Minerais críticos
- Saúde
- Inclusão digital
- Comércio bilateral
“Recordamos a meta de aumentar o comércio bilateral para mais de US$ 20 bilhões até 2030. Para isso, concordamos em ampliar a cobertura do acordo entre Mercosul e Índia”, disse Lula.
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Sobretaxa de Trump é retaliação à Índia por relação com Rússia
A nova tarifa imposta pelos Estados Unidos foi justificada por Donald Trump como uma retaliação à compra de energia russa pela Índia. O republicano acusou o governo indiano de “fortalecer Vladimir Putin” e dificultar o acesso de produtos norte-americanos ao mercado asiático. O Brasil também foi incluído na lista de países tarifados, sem explicações públicas formais.
A reação conjunta de Brasil e Índia sinaliza uma estratégia coordenada entre os Brics diante das sanções unilaterais impostas por Washington. A China, igualmente afetada, já iniciou consultas diplomáticas para alinhar respostas.
Cooperação tecnológica inclui Pix e UPI
Além dos temas geopolíticos e comerciais, os líderes trocaram experiências sobre sistemas de pagamento digital. O Brasil apresentou o modelo do Pix, enquanto a Índia compartilhou avanços do UPI (Unified Payments Interface), baseado em QR Codes.
Ambos os países estudam formas de interoperabilidade financeira para facilitar transações entre empresas e cidadãos.
A proposta inclui a criação de um sistema de conversão automática entre o real brasileiro e a rupia indiana, com foco no comércio digital.
Cúpula do Brics e transição para a Índia
A reunião também tratou da Cúpula do Brics prevista para o fim deste ano no Brasil. Lula e Modi discutiram a transição da presidência rotativa do bloco, que será assumida pela Índia em 2026.
“Pretendemos trabalhar juntos para uma transição eficaz e fortalecer o papel dos Brics no equilíbrio global”, escreveu o presidente brasileiro.
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Entenda a reação à tarifa dos EUA
Por que os EUA impuseram novas tarifas?
A justificativa oficial do presidente Donald Trump é que a Índia estaria favorecendo a Rússia ao manter importações de energia, o que, segundo ele, distorce o mercado global e prejudica os interesses dos EUA.
O Brasil também foi afetado?
Sim. O governo norte-americano aplicou a mesma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, sem apresentar argumentos técnicos detalhados.
Como o Brasil e a Índia reagiram?
Ambos condenaram as tarifas e anunciaram que buscarão respostas multilaterais no âmbito dos Brics, da OMC e de acordos regionais.
Há impacto nas exportações?
Sim. Os setores mais atingidos incluem aço, tecnologia, farmacêuticos e alimentos processados. Representantes das indústrias avaliam prejuízos de até US$ 1,5 bilhão por ano.
O que pode mudar na presidência dos Brics?
A Índia, que assumirá o comando em 2026, planeja fortalecer os mecanismos financeiros do bloco, incluindo o Novo Banco de Desenvolvimento, e ampliar a cooperação digital e energética.
Integração como resposta a sanções unilaterais
A articulação entre Brasil e Índia ocorre em um momento de crescente desconfiança global sobre as medidas unilaterais dos Estados Unidos. Com Donald Trump de volta à Casa Branca, cresce a pressão sobre países que mantêm autonomia diplomática frente ao eixo Washington-Bruxelas.
Lula e Modi sinalizam que a resposta virá com mais integração sul-sul, fortalecimento do Brics e construção de alternativas ao sistema financeiro dominado pelo dólar.



