terça-feira, 04/11/25 - 14:51:05
22 C
Rio de Janeiro
InícioPolíticaVetos de Lula à Ficha Limpa dificultam volta de Bolsonaro em 2030
Fora

Vetos de Lula à Ficha Limpa dificultam volta de Bolsonaro em 2030

Presidente barrou trechos que poderiam reduzir tempo de inelegibilidade e reabrir caminho eleitoral ao ex-mandatário condenado.

Os vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à nova versão da Lei da Ficha Limpa frustraram as expectativas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de voltar às urnas em 2030. Inelegível por abuso de poder político e econômico, o ex-mandatário contava com brechas no texto aprovado pelo Congresso para antecipar o fim da punição.

Com os vetos, a janela eleitoral de Bolsonaro se fecha — e sua elegibilidade, por ora, segue barrada até 2031, segundo interpretação atual do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


Entenda o que estava em jogo

O projeto de lei, aprovado no fim de setembro, pretendia alterar o marco temporal da inelegibilidade, previsto no artigo 1º da Lei Complementar nº 135/2010. A proposta previa quatro possibilidades para o início do prazo de oito anos: a partir da renúncia ao cargo, da perda do mandato, da condenação por órgão colegiado ou da eleição em que ocorreu o abuso — este último ponto poderia beneficiar diretamente Bolsonaro.

Condenado pelo TSE por atacar o sistema eleitoral e usar eventos oficiais para autopromoção, Bolsonaro foi considerado inelegível a partir de 2 de outubro de 2022. Nesse cálculo, poderia registrar candidatura em 2 de outubro de 2030, antes do primeiro turno das eleições.

Mais Notícias

Eduardo Bolsonaro se diz vítima de perseguição por denúncia da PGR

Deputado licenciado rebate acusação de coação e acusa sistema judicial de uso político em disputa no STF.

Fabiano Contarato é eleito presidente da CPI do Crime Organizado

Senado escolhe senador do PT para comandar comissão que investigará facções criminosas e milícias, com relatoria de Alessandro Vieira.

Com o veto de Lula, o dispositivo que reduzia o prazo foi suprimido. Assim, o início da contagem permanece a partir da condenação em órgão colegiado, mantendo o ex-presidente fora da disputa até 2031.

Além disso, Bolsonaro foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado — pena que ainda cabe recurso, mas sem relação direta com a Ficha Limpa.


O que Lula sancionou e o que vetou

Lula manteve no texto apenas os trechos considerados constitucionais e de baixo impacto político, como a antecipação do início da contagem do prazo de inelegibilidade para políticos condenados por delitos leves. Antes, o prazo começava após o trânsito em julgado; agora, passa a valer a partir da condenação em órgão colegiado, o que reduz o afastamento de quem responde por infrações menores.

Crimes graves — como lavagem de dinheiro, tortura, tráfico, terrorismo e racismo — seguem com as regras originais. O Planalto também vetou a retroatividade da nova lei, impedindo que condenações antigas fossem revistas.

“O veto evita que casos passados sejam reabertos. Se a lei for mais severa, não pode retroagir”, explicou o jurista Fernando Neisser, da Fundação Getulio Vargas (FGV), ao UOL.


Reação do STF e cobrança de Cármen Lúcia

As mudanças provocaram reação no Supremo Tribunal Federal (STF). A ministra Cármen Lúcia determinou que Lula e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), prestem esclarecimentos em até cinco dias sobre as alterações feitas no projeto.

A decisão atendeu a ação do partido Rede Sustentabilidade, que acusa o Senado de ter feito “modificações substanciais” sob o pretexto de ajustes redacionais.

“Determino que sejam requisitadas, com urgência e prioridade, informações ao Presidente da República e ao Presidente do Congresso Nacional, a serem prestadas no prazo máximo e improrrogável de cinco dias”, escreveu Cármen Lúcia em despacho obtido pelo Diário Carioca.


Juristas e autores da lei criticam retrocesso

Um dos criadores da Lei da Ficha Limpa, o advogado Márlon Reis, classificou as alterações como “inconstitucionais” e protocolou duas petições no STF pedindo revisão do projeto.

“A Ficha Limpa é uma conquista histórica. Não pode ser manipulada por interesses partidários ou pessoais”, afirmou Reis.

Para especialistas, a tentativa de flexibilizar a lei representou um risco à credibilidade das instituições eleitorais. O cientista político Marco Teixeira (FGV) avaliou que o debate foi contaminado por interesses diretos de parlamentares:

“Os políticos estão legislando em causa própria. A discussão deixa de ser institucional e passa a ser pessoal.”

Beto Vasques, da FESP-SP, avaliou que Lula agiu com pragmatismo político ao vetar parcialmente o texto:

“Se vetasse tudo, o Congresso derrubaria o veto. Ele manteve o essencial e evitou crise com Alcolumbre.”


O discurso de Alcolumbre e a disputa política no Congresso

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, justificou as mudanças dizendo que o objetivo era “modernizar” a Ficha Limpa. Segundo ele, a intenção era “dar o espírito original da lei” e evitar que a inelegibilidade fosse “eterna”.

Críticos, no entanto, afirmam que o discurso encobre uma tentativa de autoproteção política num Congresso com dezenas de parlamentares investigados ou condenados.

Para juristas e entidades de transparência pública, qualquer revisão da Ficha Limpa deve ocorrer em ambiente técnico, com base em estudos e dados, e não sob pressão de grupos políticos afetados por condenações.

Enquanto o Congresso decide se manterá ou derrubará os vetos de Lula, o futuro eleitoral de Jair Bolsonaro segue indefinido — e cada vez mais distante das urnas de 2030.

JR Vital
JR Vitalhttps://www.diariocarioca.com/
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.
Parimatch Cassino onlineParimatch Cassino onlineParimatch Cassino onlineParimatch Cassino online

Relacionadas

Eduardo Bolsonaro se diz vítima de perseguição por denúncia da PGR

Deputado licenciado rebate acusação de coação e acusa sistema judicial de uso político em disputa no STF.

Fabiano Contarato é eleito presidente da CPI do Crime Organizado

Senado escolhe senador do PT para comandar comissão que investigará facções criminosas e milícias, com relatoria de Alessandro Vieira.

Nikolas Ferreira é condenado por discurso racista e transfóbico contra psicóloga trans

Justiça mineira determina pagamento de R$ 30 mil a Andreone Medrado e remoção de vídeo ofensivo das redes do deputado.

TCU identifica indícios graves e cobra Hugo Motta por funcionárias fantasmas

Área técnica do tribunal exige comprovação sobre trabalho das servidoras no gabinete do presidente da Câmara

Carlos Bolsonaro reafirma aliança com Carol de Toni enquanto deputada de SC diz que pai forçou sua candidatura ao senado para salva-lo

A deputada estadual Ana Campagnolo (PL-SC) afirmou em entrevista que o ex-presidente Jair Bolsonaro lançou o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) como pré-candidato ao Senado por Santa Catarina com objetivo de “salvar o filho” de pressões...

Mais Notícias

Assuntos:

Recomendadas