Rio de Janeiro, 15 de julho de 2025 — A artista visual Aline Motta apresenta a exposição Filha Natural no Sesc Copacabana, em estreia marcada para 19 de julho. A mostra resgata a história apagada de sua tataravó, mulher negra nascida no século XIX, e propõe uma reinterpretação radical da memória nacional.
Um gesto contra o esquecimento
Filha Natural não é uma exposição sobre o passado: é uma denúncia sobre seu apagamento. A partir da trajetória ausente de sua tataravó, uma mulher negra possivelmente nascida em 1855 em uma fazenda de café em Vassouras, Aline Motta convoca memória, ficção e arquivo para tensionar o silêncio imposto às genealogias afro-brasileiras.
A mostra, sob curadoria de Fernanda Terra, reúne instalações, vídeos, colagens e um filme ficcional inédito para evocar histórias soterradas pela escravidão, pelo patriarcado e pela branquitude. Em vez de biografar, Aline fabula com rigor: reconstitui lacunas com a força crítica da arte e recusa o apagamento como destino.
Entre passado colonial e permanência estrutural
Um dos trabalhos centrais da exposição é um grande painel fotográfico estereoscópico, que juxtapõe duas imagens feitas do mesmo ponto: uma de 1860, assinada por Revert Klumb, e outra produzida pela própria artista, mais de um século e meio depois. A varanda da Fazenda do Ubá, em Vassouras, não é apenas cenário — é sintoma. A operação artística revela o que a história oficial tentou congelar: que o racismo não pertence ao século XIX, mas às suas ruínas operantes no século XXI.
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No filme criado por Aline, a ficção assume o lugar onde os arquivos falham. A personagem ancestral é encarnada por uma atriz que percorre ruínas coloniais enquanto narra lembranças fragmentadas. O enredo, escrito pela artista, é atravessado por documentos reais, cartas rasgadas, nomes apagados de certidões, em um roteiro onde a memória é ferramenta de justiça e não fetiche estético.
Arte como reparação narrativa
Aline Motta articula estética e insurgência. Sua obra não apenas denuncia a ausência de mulheres negras na historiografia dominante — ela cria presença. Ao atravessar arquivos familiares, relatos orais e registros coloniais com procedimentos contemporâneos de linguagem, a artista propõe que lembrar não é ato passivo, mas gesto radical de reescrever o mundo.
A mostra é resultado do Edital Pulsar 2025, promovido pelo Sesc RJ, e compõe um programa mais amplo de ações culturais voltadas à reconfiguração da memória histórica do país. No dia da abertura, haverá uma oficina conduzida pela própria artista, das 15h às 17h, seguida da cerimônia oficial de lançamento.
A entrada é gratuita e a exposição poderá ser visitada até 21 de setembro.
Perguntas e Respostas
Quem é Aline Motta?
Artista visual e escritora que investiga as memórias afro-atlânticas a partir de linguagens como vídeo, instalação, colagem e performance.
O que é a exposição Filha Natural?
Uma leitura crítica e sensível do passado escravista, ancorada na história apagada da tataravó da artista, mulher negra do século XIX.
Onde e quando acontece a mostra?
No Sesc Copacabana, de 19 de julho a 21 de setembro de 2025, com entrada gratuita.
Qual a proposta curatorial da exposição?
Reconstituir ausências históricas e tensionar o colonialismo narrativo por meio da arte contemporânea e da fabulação crítica.
Por que a obra é relevante hoje?
Porque confronta o silenciamento das mulheres negras na história e propõe a arte como campo de disputa por memória e reparação.



