O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tornou-se alvo de pressões internacionais e de resistência crescente dentro da própria Corte, segundo reportagem da agência Reuters publicada nesta terça-feira (2). A análise ocorre no momento em que o STF julga o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o chamado “núcleo crucial” acusado de tentar um golpe de Estado após as eleições de 2022.
A reportagem destacou que “ninguém sentiu a força dessa fúria [de Donald Trump], nem a desprezou com tanto desdém, quanto Alexandre de Moraes”. O texto cita a prisão domiciliar de Bolsonaro, a detenção de apoiadores pelo ataque de 8 de janeiro de 2023 e embates com o empresário Elon Musk sobre conteúdos em redes sociais como fatores que elevaram as tensões.
Em resposta a esses episódios, o governo dos Estados Unidos aplicou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, restringiu vistos e impôs sanções financeiras individuais. Apesar disso, Moraes também enfrenta questionamentos internos, com ministros dispostos a expor divergências em suas decisões. Parlamentares ligados ao bolsonarismo articulam ainda pedidos de impeachment.
O ministro André Mendonça, indicado por Bolsonaro em 2021, afirmou recentemente que “um bom juiz deve ser respeitado, não temido”, declaração interpretada como crítica velada ao colega. A Reuters também lembrou que os EUA retiraram vistos de oito ministros do STF em julho, poupando três que já haviam discordado de Moraes em decisões anteriores: Luiz Fux, Kássio Nunes Marques e o próprio Mendonça.
Questionado, um alto funcionário do Departamento de Estado disse à Reuters que as sanções foram aplicadas com base na Lei Global Magnitsky, voltada a estrangeiros acusados de corrupção ou violações de direitos humanos. Moraes negou qualquer desconforto interno e rebateu: “Se alguém reclamou, reclamou à imprensa. Quem colocou isso na imprensa, eu digo aqui: é mentira”.
Segundo a agência, a expectativa é que Bolsonaro seja condenado pelo colegiado de cinco ministros até a próxima semana, o que pode representar a primeira vez na história do Brasil em que militares de alta patente sejam punidos por ameaças à democracia. Bolsonaro nega as acusações e classifica Moraes como “ditador”.
A biografia do ministro também foi mencionada: “Nasceu em 13 de dezembro de 1968, dia em que a ditadura militar brasileira editou o Ato Institucional nº 5. Para seus apoiadores, Moraes atua para impedir a repetição daquele período; críticos apontam censura e abuso de poder, incluindo remoção de postagens, apreensão de celulares e prisão de parlamentares”.
Levantamento citado pela Reuters aponta que 55% dos brasileiros consideravam justificada a prisão domiciliar de Bolsonaro em agosto, mas 46% defendiam o impeachment de Moraes. Aliados de Bolsonaro estimam contar com 41 senadores para apoiar o afastamento do ministro, número ainda abaixo dos 54 necessários.