Brasília, 18 de julho de 2025 – Em entrevista concedida à agência Reuters, Jair Bolsonaro afirmou que sua inelegibilidade favorece diretamente a reeleição de Lula. Sob tornozeleira eletrônica e investigado por tentativa de golpe, o ex-presidente voltou a atacar Alexandre de Moraes e a sugerir que será preso até agosto.
Rejeição à urna e narrativa de martírio
Jair Bolsonaro não esconde mais o desespero. Em declarações à Reuters nesta sexta-feira, o ex-presidente da República disse que sua ausência no pleito de 2026 garante a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. “Sem mim, Lula ganha de qualquer um”, afirmou. Com essa frase, Bolsonaro admite que se tornou o maior obstáculo da extrema direita, não seu principal trunfo.
A entrevista é mais do que um lamento: é um cálculo político. A frase não apenas reconhece sua inelegibilidade como tenta deslocar o debate do conteúdo dos crimes investigados para a encenação da vítima perseguida. A tática, velha conhecida do bolsonarismo, ganha nova roupagem ao associar sua exclusão das urnas à ideia de que o “sistema” estaria manobrando para “matá-lo”. O uso do termo “cadafalso” não é gratuito: Bolsonaro tenta se projetar como mártir cristão de um suposto regime autoritário comandado por Moraes.
Perseguição e ameaça de prisão até agosto
Questionado sobre a possibilidade de prisão, Bolsonaro declarou que “o sentimento é que vai acontecer” e cravou até data: “Mais ou menos 20 de agosto”. Acuado por investigações que apontam seu envolvimento direto na tentativa de golpe de 2023, o ex-presidente tenta antecipar a narrativa da condenação inevitável como prova de perseguição — e não como resposta institucional a crimes contra a democracia.
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O Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente na figura de Alexandre de Moraes, é o alvo preferencial do bolsonarismo. Na entrevista, Bolsonaro reafirma essa estratégia: “Na hora que o soberano Alexandre de Moraes achar que tem que chutar o banquinho, ele chuta”. A metáfora macabra, além de grotesca, escancara o roteiro que pretende transformar a resposta judicial a um projeto golpista em farsa política.
Tornozeleira eletrônica e silêncio forçado nas redes
Sob ordem judicial, Bolsonaro agora é monitorado por tornozeleira eletrônica e está proibido de se comunicar por redes sociais. Segundo ele, a medida equivale à “mordaça” e “covardia”. A crítica à decisão de Moraes reforça a ofensiva bolsonarista contra o Judiciário, ainda que o ex-presidente esteja formalmente em liberdade. Ao dizer que está sendo calado, Bolsonaro tenta mobilizar apoiadores, especialmente fora do país, para pressionar o sistema judiciário brasileiro com argumentos de cerceamento de direitos políticos.
A ironia é que essas declarações foram feitas em uma entrevista internacional, o que desmente, por si só, qualquer censura real. O que está em jogo não é liberdade de expressão, mas uso das redes para incitação, mobilização golpista e desinformação — elementos centrais nos processos que o mantêm inelegível.
Eduardo Bolsonaro e o refúgio trumpista nos EUA
O ex-presidente também revelou que Eduardo Bolsonaro, atualmente nos Estados Unidos, cogita tornar-se cidadão americano. Nas palavras do pai, Eduardo não voltará ao Brasil por temer ser preso. Mais uma vez, a estratégia é clara: internacionalizar o conflito, exportar a narrativa de perseguição e buscar apoio no campo da extrema direita global, especialmente junto ao ex-presidente norte-americano Donald Trump.
Ao afirmar que Eduardo tenta influenciar o governo dos EUA a favor de seu grupo político, Bolsonaro admite, ainda que de forma enviesada, que há uma articulação internacional em curso. É parte da mesma lógica que inspirou as visitas ao CPAC, o alinhamento com Steve Bannon e os ataques sistemáticos à Justiça brasileira como forma de mobilizar aliados externos.
Aposta golpista e fuga para frente
O novo capítulo da ofensiva bolsonarista é uma combinação de vitimização ensaiada, apelos ao exterior e tentativa de deslegitimar o processo judicial em curso. A tornozeleira eletrônica é simbólica: ela marca não só a perda de liberdade, mas a perda de controle sobre a narrativa.
Ao declarar que Lula vence “de qualquer um” se ele não estiver na disputa, Bolsonaro implode a própria tese de que existe uma direita forte e estruturada fora do seu nome. Com isso, transforma aliados em figurantes e se posiciona como o centro de gravidade de um campo político em ruínas. A pergunta que se impõe não é se ele será preso, mas até onde levará sua aposta na desordem para tentar sobreviver politicamente.



