Brasília, 14 de julho de 2025 — A ofensiva tarifária de Donald Trump obrigou o Congresso a recalibrar sua bússola política. O projeto de anistia aos golpistas de 8 de janeiro foi engavetado, o Centrão se afastou do bolsonarismo e defendeu protagonismo do governo Lula nas tratativas com os EUA.
Crise com EUA esvazia manobra bolsonarista
A proposta de anistia articulada por aliados de Jair Bolsonaro perdeu fôlego em meio ao agravamento da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos. A tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros, anunciada sem diálogo ou mediação, acendeu um alerta no Congresso. Deputados do Centrão, em especial do entorno de Hugo Motta (Republicanos-PB), avaliaram que discutir o perdão aos golpistas nesse cenário seria um gesto de afronta à soberania e uma sinalização de fraqueza institucional. Resultado: o projeto foi engavetado sem data para retorno.
Centrão reposiciona foco e empurra responsabilidade para Lula
A mudança não é apenas técnica. É política. Líderes de partidos do bloco conservador passaram a defender que a condução da crise fique sob exclusividade do Executivo federal, sem interferência do Legislativo. A manobra desarma a narrativa bolsonarista de que o Congresso estaria a serviço de uma blindagem jurídica ao ex-presidente. Mais do que isso, o Centrão parece ter entendido que atrelar a imagem do Legislativo ao bolsonarismo, nesse momento, comprometeria negociações diplomáticas e acordos comerciais em curso.
Versão alternativa tenta salvar Bolsonaro pela tangente
Ainda assim, uma versão revisada do projeto segue sendo costurada nos bastidores. A ideia é limitar a anistia apenas aos que estiveram fisicamente na Esplanada dos Ministérios, excluindo financiadores e articuladores dos atos golpistas. O texto, segundo fontes da CNN, conta com a participação de Hugo Motta, do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e do próprio Bolsonaro. A tentativa de restringir o alcance jurídico do projeto, no entanto, é contraditória com a movimentação bolsonarista na Câmara, que articula um destaque específico para incluir Jair Bolsonaro entre os beneficiários — ainda que ele sequer estivesse em território nacional no dia dos ataques.
Comitê interministerial busca saída soberana
Diante do vácuo criado pelo recuo do Legislativo, o governo Lula anunciou a criação de um comitê interministerial para formular uma resposta coordenada à medida unilateral de Trump. A decisão representa mais do que um protocolo diplomático: é uma afirmação de soberania. A Casa Civil, os ministérios da Fazenda, Relações Exteriores, Indústria e Comércio, além da AGU, devem apresentar até o fim da semana uma proposta que envolva retaliação proporcional, reforço da integração sul-americana e revisão dos canais comerciais com os EUA.
Anistia empacada, bolsonarismo isolado
A combinação entre a crise internacional e a guinada estratégica do Congresso não apenas trava o projeto de anistia como acentua o isolamento político do bolsonarismo. Ao vincular seu destino político a um governo estrangeiro que impôs sanções econômicas ao Brasil, Bolsonaro expôs a fragilidade de seu discurso nacionalista. No novo arranjo que se desenha, o ex-presidente se torna um passivo para seus antigos aliados, e a tentativa de ressuscitar sua base por meio da anistia enfrenta um cenário de rejeição até mesmo entre setores conservadores.
Perguntas e Respostas
O projeto de anistia ainda será votado neste semestre?
Não. Lideranças do Centrão afirmam que a proposta foi engavetada sem previsão de retomada.
Qual foi o impacto do tarifaço de Trump sobre o projeto?
A ofensiva tarifária dos EUA tornou a discussão da anistia politicamente inviável no momento.
Quem está articulando a versão alternativa da anistia?
Hugo Motta, Davi Alcolumbre e Jair Bolsonaro discutem uma proposta que exclui financiadores dos ataques.
O governo federal se posicionou?
Sim. Criou um comitê interministerial para formular uma resposta soberana às tarifas impostas pelos EUA.
Bolsonaro pode ser beneficiado pelo novo texto?
Aliados articulam um destaque para incluí-lo, mas a proposta original não o contempla.
