O ex-governador do Ceará Ciro Gomes entregou nesta sexta-feira (17) sua carta de desfiliação ao presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, encerrando uma trajetória de mais de três décadas no partido.
A informação foi divulgada pela Folha de S.Paulo e confirmada pelo DC. A decisão reflete um dos movimentos mais simbólicos da crise interna no campo progressista nordestino.
Segundo aliados, a decisão foi motivada pela aproximação do PDT cearense com o governo do petista Elmano de Freitas, o que Ciro considera uma contradição com a linha de oposição que defende desde 2022. Para interlocutores próximos, o rompimento era “inevitável” diante das críticas públicas e da falta de alinhamento estratégico entre as lideranças locais.
Ruptura política no Ceará
No Ceará, a relação entre o grupo de Ciro Gomes e o PT se deteriorou desde as eleições de 2022, quando o pedetista decidiu lançar Roberto Cláudio ao governo estadual em confronto direto com o então candidato petista Elmano de Freitas, apoiado pelo ex-governador Camilo Santana e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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Desde então, Ciro passou a endurecer o discurso contra a sigla aliada, acusando o PT de “hegemonismo” e de “asfixiar os projetos regionais trabalhistas”.
Na avaliação de analistas políticos, a desfiliação consolida o fim de uma era do trabalhismo cearense e enfraquece a base tradicional do PDT, que governou o estado por 16 anos. Ciro, por sua vez, reforça sua imagem de oposição independente e busca reposicionar-se no cenário nacional.
“A notícia de sua saída preocupa e entristece. Poderia recorrer à velha frase: ‘ninguém é maior do que o partido’. É verdade. Mas também é verdade que Ciro é parte da história, da consciência do presente e do sonho de um futuro trabalhista”, declarou Antonio Neto, vice-presidente nacional do PDT e presidente estadual da sigla em São Paulo.
Próximos passos e impacto político
Fontes próximas afirmam que Ciro Gomes deve anunciar “em breve” se ingressará em uma nova legenda ou se permanecerá sem filiação. Há conversas informais com siglas de centro-esquerda, mas o ex-governador ainda avalia o cenário político de 2026.
Em Brasília, dirigentes do PDT tentam minimizar o impacto, mas reconhecem que a saída de Ciro gera um vazio simbólico e eleitoral. O ex-ministro disputou quatro vezes a Presidência da República — 1998, 2002, 2018 e 2022 — e consolidou-se como um dos principais porta-vozes do trabalhismo contemporâneo.
Em maio, Ciro chegou a receber elogios de parlamentares da direita, como o deputado André Fernandes (PL-CE), aliado de Jair Bolsonaro, que o chamou de “inteligente e corajoso”. A aproximação com opositores ideológicos acentuou o isolamento dentro do PDT e reforçou o desgaste interno.



