Nem da Cadeia, nem da Disney

Flávio Dino decide que mandato parlamentar exige presença física

Ministro do STF nega pedido de Chiquinho Brazão e estabelece que função de deputado não pode ser exercida de forma remota. Decisão afeta Eduardo Bolsonaro.

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Flávio Dino - Foto: Foto Lula Marques/ Agência Brasil.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)Flávio Dino, estabeleceu em decisão histórica que o exercício do mandato parlamentar exige presença física e não pode ser desempenhado de forma remota. O entendimento — que nega pedido do ex-deputado Chiquinho Brazão para reaver seu mandato cassado por faltas — é interpretado como um recado direto ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos desde fevereiro articulando contra instituições brasileiras.

Dino foi categórico ao afirmar que “a presença física é a regra” para o exercício do mandato. A decisão reforça que detentores de altas funções estatais têm “deveres constitucionais rigorosos” e que exceções ao trabalho presencial devem ser “episódicas, motivadas e devidamente regradas”. O texto serve como alerta para casos como o de Eduardo Bolsonaro, que tenta usar uma manobra regimental para justificar ausências prolongadas.

Chiquinho Brazão teve o mandato cassado pela Câmara dos Deputados em abril após acumular 72 faltas não justificadas — 84% das sessões de votação em 2024. Preso desde março como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, sua defesa alegava que a prisão impossibilitava a participação presencial.

Dino rejeitou o argumento e destacou que a Constituição e o Regimento Interno da Câmara são claros: a perda de mandato por faltas excessivas é automática, e a prisão preventiva não se enquadra entre as hipóteses de licença permitidas.

O impacto sobre Eduardo Bolsonaro

A decisão assume especial importância pelo timing:

  • Eduardo Bolsonaro está nos EUA desde fevereiro;
  • Foi indiciado pela PF por coação a autoridades e ataques à democracia;
  • PL o nomeou líder da minoria para tentar justificar suas faltas;
  • O presidente da Câmara, Hugo Motta, disse que analisará a “atípica” indicação.

A fundamentação de Dino deixa claro que a manobra do PL — baseada em ato de Eduardo Cunha de 2015 — não sobreviverá a um eventual questionamento no STF.

O princípio: representação exige presença

Dino ressaltou que o mandato parlamentar é função de representação popular direta que exige presença em Brasília:

“No exercício de funções de membro de Poder, diretamente delegadas da soberania popular, a presença física na sede do respectivo Poder deve ser a regra”.

O entendimento protege a democracia contra abusos e ausências estratégicas de parlamentares que fogem de suas responsabilidades.

Próximos passos: pressão sobre Hugo Motta

A decisão coloca Hugo Motta em xeque:

  • Se aceitar a justificativa de faltas de Eduardo Bolsonaro, desrespeitará o STF;
  • Se rejeitar, enfrentará a base bolsonarista que sustenta seu governo na Câmara.

A sociedade espera que a lei prevaleça sobre acordos políticos.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.