Mauro Cid diz ter omitido denúncia por “choque” com prisão de militares

Tenente-coronel alega que só relatou suposto repasse de dinheiro por Braga Netto após ser impactado pela detenção de aliados

JR Vital
por
JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Acareação entre Mauro Cid e Braga Netto – Rosinei Coutinho/STF

Brasília, 24 de junho de 2025 – O tenente‑coronel Mauro Cid declarou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que só trouxe à Polícia Federal a acusação de que o general da reserva Walter Braga Netto teria entregado dinheiro a ele após entrar em “choque” com a prisão de colegas militares.

A revelação foi feita durante acareação realizada hoje, na qual os dois mantiveram relatos divergentes sobre eventos ligados à suposta trama golpista ocorrida em 2022.


Choque como justificativa

O motivo alegado por Cid para não ter mencionado o repasse anteriormente é surpreendente: ele disse que o impacto emocional causado pela Operação Contragolpe, que prendeu oficiais planejaram assassinato de autoridades, teria comprometido sua capacidade de relatar o caso na época oglobo.globo.com. Apenas em novembro de 2024, durante audiência no STF, Cid mencionou a sacola lacrada — supostamente cheia de dinheiro — entregue por Braga Netto.


Reunião e dinheiro: versões opostas

Enquanto Cid mantêm a narrativa de que Braga Netto entregou uma sacola de vinho com recursos para financiar movimentos pró-Bolsonaro, o general nega veementemente, afirmando que apenas orientou Cid a procurar o tesoureiro do PL. Para o militar, a quantia foi estimada apenas pelo peso do pacote, sem sequer ver seu conteúdo .

Na acareação, Braga Netto chegou a chamar Cid de “mentiroso” em ao menos duas ocasiões, segundo seu advogado. Cid permaneceu de cabeça baixa e não refutou publicamente a acusação.


Reunião no Alvorada: conspiração ou passeio?

A outra divergência gira em torno de encontro em novembro de 2022 na casa de Braga Netto. Cid afirma que ali foram debatidos planos operacionais relacionados às eleições, com militares expressando insatisfação e mobilização. Braga Netto, por sua vez, sustenta que foi apenas uma visita informal e que todos saíram juntos de forma tranquila.


O peso da hierarquia

O histórico de amizade entre os militares — seus pais são veteranos do Exército e têm longa convivência — é apontado como obstáculo para a delação, só rompida após pressão da prisão dos aliados otempo.com.br. Cid admite ter alterado sua versão várias vezes, mas atribui a inconsistência ao impacto emocional e à exposição do “plano Punhal Verde Amarelo”.


O que isso significa

A estratégia de Cid de justificar a omissão por “choque emocional” entra em rota de colisão com a defesa de Braga Netto, que acusa o delator de mentir reiteradamente e avalia pedir anulação da delação premiada. O clima da acareação, embora tenso, foi qualificado por alguns advogados como “sem tumulto”.

O Diário Carioca segue acompanhando as contradições que emergem no processo sobre a trama golpista, avaliando se o STF encontrará elementos concretos para confirmar relato ou fragilizar a credibilidade do delator.


O Carioca Esclarece
A acareação é um recurso jurídico para confrontar depoimentos conflitantes. Serve para testar veracidade dos relatos diante de autoridade judicial e colegas no processo penal.


FAQ – Perguntas Frequentes

1. Por que Cid demorou a relatar o suposto repasse de dinheiro?
Ele afirmou que estava em choque com a prisão de companheiros militares durante sua entrevista à PF, alegando incapacidade emocional de lembrar detalhes.

2. Braga Netto negou as acusações?
Sim. Ele afirmou que apenas indicou a Cid procurar o tesoureiro do PL e negou entrega de dinheiro.

3. Como ficará a delação de Cid?
A defesa de Braga Netto já sinalizou que buscará anular a delação por inconsistências, o que pode enfraquecer o relato e comprometer partes do processo.

Seguir:
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.