Brasília — 11 de agosto de 2025 — A Polícia Federal (PF) abriu, no mês passado, um inquérito contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por disseminar fake news e cometer crimes contra a honra do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A investigação apura a publicação, no canal oficial de Bolsonaro no WhatsApp, de conteúdo que vinculava Lula à morte de pessoas LGBTQIA+, em um paralelo com o regime de Bashar al-Assad, na Síria.
Denúncia partiu de notícia-crime internacional
O caso chegou às autoridades após o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, solicitar ao diretor-geral da PF, Andrei Passos, a apuração. A solicitação foi reforçada por uma notícia-crime apresentada ao Ministério Público Federal (MPF) por um cidadão russo-brasileiro. Ele denunciou que, em 15 de janeiro de 2025, Bolsonaro publicou no canal de WhatsApp uma mensagem associando Lula ao governo de Assad, acusado internacionalmente de perseguir e executar pessoas LGBTQIA+.
O conteúdo foi posteriormente removido, mas não antes de circular amplamente em grupos de apoiadores do ex-presidente.
Investigação apura alcance e contexto da fake news
De acordo com a análise preliminar, a PF investiga a possível prática de calúnia, difamação e injúria, além da propagação deliberada de notícias falsas. Os agentes também avaliam o alcance da postagem e o ambiente em que foi divulgada, considerando o histórico de uso das redes por Bolsonaro para ataques políticos e mobilização de desinformação.
O canal de Bolsonaro no WhatsApp, criado em outubro de 2023, não recebe novas publicações desde 12 de julho de 2025. O ex-presidente cumpre prisão domiciliar, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e está proibido de utilizar qualquer rede social.
Contexto sobre o regime sírio
O regime de Bashar al-Assad chegou ao fim em 8 de dezembro de 2024, quando rebeldes tomaram Damasco e a família do ditador fugiu para a Rússia. Durante seu governo, iniciado em 2004, atos homossexuais foram criminalizados na Síria, com denúncias documentadas de perseguição, tortura e execução de pessoas LGBTQIA+.
O caso reforça o padrão de desinformação promovido por Jair Bolsonaro desde antes de deixar o poder, agora sob escrutínio judicial e com restrições impostas pelo STF. A investigação pode resultar em novas acusações criminais, ampliando o cerco contra o ex-presidente e atingindo diretamente o núcleo do bolsonarismo, cuja sobrevivência política depende cada vez mais de narrativas fabricadas e ataques à democracia.