O Abençoado das Emendas

Genro de Silas Malafaia se torna principal beneficiado por emendas na UFRRJ

Programa coordenado por Anderson Silveira, casado com filha de Silas Malafaia, recebeu R$ 14 milhões do Ministério do Esporte e gerou renúncia coletiva na Fapur

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Anderson Silveira na família de Silas Malafaia. Foto: reprodução

Casado com uma filha do pastor Silas Malafaia, o professor Anderson Silveira tornou-se o principal responsável pela captação de emendas parlamentares na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ele coordena o programa Esporte Para a Vida Toda (Previt), que recebeu R$ 14 milhões do Ministério do Esporte em 2024 — mais do que o dobro do recurso destinado ao segundo maior projeto da universidade.

Do total, R$ 11,7 milhões foram destinados a bolsas. Destes, R$ 7 milhões beneficiaram pessoas externas à universidade, fato que gerou desconforto entre servidores e acabou culminando na renúncia coletiva da diretoria da Fundação de Apoio da Rural (Fapur).

O Previt prevê a instalação de 75 núcleos esportivos espalhados por mais de 20 municípios fluminenses. Documentos consultados indicam que ao menos 14 desses núcleos funcionam em igrejas, majoritariamente evangélicas. Segundo os registros, deputados como Laura Carneiro (PSD-RJ) e Roberto Monteiro (PL-RJ) influenciaram a definição de alguns locais.

Em resposta às menções de influência parlamentar, Anderson afirmou que parlamentares fazem solicitações, mas negou interferência direta na operação do programa. “Ele (Malafaia) nem sabe que eu trabalho com esse tipo de coisa”, disse ele, acrescentando que, quando ocorre, a participação do parlamentar limita-se a pedidos por atenção a determinadas regiões. Segundo o coordenador, eventuais ações de propaganda local pelos parlamentares fogem ao controle da coordenação.

O financiamento do Previt ocorreu por meio de um Termo de Execução Descentralizada (TED), mecanismo que, segundo os documentos, torna mais difícil rastrear os “padrinhos” das emendas. Internamente, setores da UFRRJ classificaram o volume das bolsas como “atípico” e com “baixo retorno acadêmico”, pois grande parte dos beneficiários não integra a comunidade universitária.

Em agosto, diante de conflitos com a coordenação do Previt, a diretoria da Fapur apresentou renúncia coletiva. Na carta de desligamento, os quatro dirigentes afirmaram que saíam com “sentimento do dever cumprido” e com a convicção de terem buscado fortalecer a fundação. Pessoas ligadas à Fapur apontaram o alto valor do projeto e as dificuldades de execução como as razões centrais da saída em bloco.

Anderson atribuiu atrasos e problemas de implementação à “incapacidade da Fapur” em gerir os recursos. Ele também afirmou que o Ministério do Esporte autorizou alterações orçamentárias para priorizar bolsas em detrimento da compra de materiais, o que, segundo o coordenador, garantiu a continuidade das ações.

Entre os envolvidos na operação administrativa do Previt, aparece Jorge Luiz Almeida Dalta, apontado como “coordenador administrativo” e remunerado com R$ 6 mil mensais. Dalta integra o Instituto Nelson Carneiro, ONG vinculada à família da deputada Laura Carneiro. Ele declarou ter sido selecionado por edital “aberto a todos os profissionais aptos e capacitados a concorrer ao cargo”, e negou indicação política.

A deputada Laura Carneiro informou que pleiteou recursos ao Ministério do Esporte para o desenvolvimento do projeto, e que a execução administrativa e operacional coube à universidade. Já o episódio em São Gonçalo envolve o deputado Roberto Monteiro, cujo vínculo com a região aparece em vídeo do pastor Cleverson Pinheiro, contratado como “apoio comunitário”, agradecendo ao parlamentar por levar o projeto social à comunidade.

Anderson reafirmou que a escolha por igrejas e outras entidades religiosas decorreu da capacidade dessas instituições atenderem populações carentes, e não de vínculo religioso ou ideológico.

Em nota, a UFRRJ declarou que a seleção de bolsistas e colaboradores externos foi feita “com base em formação e experiência na área do programa, sem vínculo pessoal de qualquer tipo”. A universidade acrescentou que a inclusão de integrantes das comunidades locais tem o objetivo de “garantir vivência em projetos sociais esportivos e ampliar o alcance das ações”.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.