Justiça Social

MTST ocupa terreno e cobra moradia no centro do Rio de Janeiro

Movimento denuncia abandono de área nobre no Rio e exige 250 unidades do Minha Casa Minha Vida faixa 1

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
MTST leva faixa em referência ao Papa Francisco para ocupação - Comunicação/MTST

31 de maio de 2025, Rio de Janeiro (RJ) – O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) consolidou neste sábado uma ocupação com cerca de 200 famílias em um terreno abandonado há mais de 20 anos na região portuária do Rio de Janeiro, cobrando o direito constitucional à moradia e denunciando a omissão crônica do poder público. O espaço, que pertencia ao Jornal do Brasil e à Docas S.A., está localizado na área do projeto bilionário Porto Maravilha, símbolo do modelo de revitalização urbana que priorizou o capital imobiliário e excluiu a população pobre.

“O povo no centro de novo”

A ação começou nas primeiras horas da madrugada com a chegada de militantes do MTST para reforçar uma ocupação já iniciada em março. O objetivo imediato foi realizar um mutirão de limpeza e estruturação básica do terreno, com a montagem de barracos, instalação de uma cozinha comunitária e organização das famílias.

“Estamos em fase de consolidação. A ocupação já existe há semanas, mas agora damos mais estrutura para resistir e garantir dignidade”, afirma Gabriel Siqueira, coordenador nacional do MTST.

Ocupação teve início oficial em março e agora está recebendo estrutura, como cozinha comunitária Comunicação/MTST | Comunicação/MTST
Ocupação teve início oficial em março e agora está recebendo estrutura, como cozinha comunitária Comunicação/MTST | Comunicação/MTST

Batizada provisoriamente como Ocupação Deus é Maior, a iniciativa é um grito contra o esvaziamento habitacional do centro carioca e a especulação desenfreada. Segundo Siqueira, o projeto Porto Maravilha, lançado às vésperas da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, prometia revitalizar a zona portuária com investimentos públicos, mas nunca cumpriu a promessa de garantir moradia popular.

20 mil prometidas, 15 entregues

A crítica central do MTST é clara: enquanto museus futuristas como o Museu do Amanhã se tornaram cartões-postais financiados com dinheiro público, nenhuma unidade do programa Minha Casa Minha Vida faixa 1 – voltado à população de baixa renda – foi construída na região central.

“Prometeram 20 mil moradias de interesse social, mas em 15 anos entregaram apenas 15 unidades no Centro do Rio. Isso é escárnio, é apartheid urbano”, denuncia Siqueira.

O Movimento exige a construção de 250 unidades habitacionais populares no terreno e o fim da política de remoções que historicamente empurra os mais pobres para as periferias e regiões sem infraestrutura adequada. Os bairros diretamente impactados pelo Porto Maravilha são Caju, Gamboa, Saúde, Santo Cristo e parte do Centro, áreas com forte presença histórica da população negra e trabalhadora carioca.

Raquel Lucena: “Ou é despejo, ou é miséria”

A tensão com a Prefeitura do Rio de Janeiro, comandada por Eduardo Paes, é inevitável. O MTST já prepara uma frente jurídica e política para resistir a eventuais ordens de despejo, reforçando a mobilização popular e a ocupação como forma legítima de luta.

“O Eduardo Paes tem cama e teto, mas ao povo ele oferece duas escolhas: ou te arranca pela força, ou te impede de trabalhar ao te expulsar. Tem gente desempregada na Baixada Fluminense porque o emprego está aqui no Centro”, denuncia Raquel Lucena, secretária da Associação de Moradores da ocupação e integrante do MTST.

A fala de Raquel sintetiza a crítica ao modelo de cidade segregadora: as oportunidades se concentram no centro, mas o centro é vedado aos pobres. O MTST reivindica o “direito de permanecer”, não apenas como um conceito jurídico, mas como prática de justiça social e reparação histórica.

Gentrificação e silêncio oficial

Desde o lançamento do Porto Maravilha, a região portuária do Rio de Janeiro tem sido alvo de gentrificação acelerada, com remoções forçadas, valorização especulativa dos imóveis e privatização de áreas públicas. O destino do terreno ocupado, assim como de tantos outros na cidade, revela o modelo urbano excludente adotado pela prefeitura e pelo mercado.

A prefeitura foi procurada pelo Diário Carioca, mas não se pronunciou até o momento. O MTST, por sua vez, promete continuar a luta e manter a ocupação como espaço de resistência popular.

“O que está em jogo aqui não é apenas um pedaço de terra, é o direito à cidade, o acesso ao que foi negado por décadas. O povo quer voltar ao centro, e essa é uma bandeira inegociável”, conclui Gabriel Siqueira.

Enquanto isso, as famílias seguem construindo, limpando e organizando o espaço. Com ou sem autorização oficial, a ocupação Deus é Maior resgata o que a cidade tentou enterrar: a presença popular no coração do Rio de Janeiro.

Com informações do Brasil de Fato

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.