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Polícia encontra quatro corpos mumificados no hospital Salgado Filho

Necrotério do Hospital no Méier tinha corpos abandonados desde 2024; Polícia Civil investiga fraude processual e vilipêndio.

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Corpos são descobertos em hospital. Foto: Reprodução

A Polícia Civil do Rio de Janeiro abriu investigação após localizar quatro corpos mumificados no necrotério do Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, nesta sexta-feira (3). A descoberta expõe falhas graves na gestão da saúde pública e lança suspeitas sobre abandono de cadáveres sem os devidos procedimentos legais e humanitários.

Segundo agentes da 23ª DP, um dos corpos estava armazenado desde dezembro de 2024, sem possibilidade de identificação. O caso veio à tona após um perito do Instituto Médico Legal (IML) relatar dificuldades em emitir laudos periciais, pois cadáveres chegavam em condições avançadas de decomposição.


Investigações e possíveis crimes

Os corpos encontrados foram apreendidos e encaminhados ao IML, onde passarão por nova perícia. A Polícia Civil já intimou funcionários e responsáveis pelo necrotério a depor. As linhas de investigação incluem suspeitas de fraude processual e vilipêndio de cadáver, crimes que podem agravar ainda mais a situação da gestão municipal da saúde.

A denúncia aponta que corpos sem identificação ou referências familiares teriam sido abandonados no hospital, sem o encaminhamento adequado. Tal prática não apenas viola protocolos legais, mas também desrespeita princípios éticos e humanitários básicos.


A versão da Secretaria de Saúde

Em nota oficial, a Secretaria Municipal de Saúde negou informações de que havia dez corpos em decomposição no local. Segundo a pasta, o necrotério mantinha sete corpos: três de pacientes que morreram nas últimas 24 horas e aguardavam retirada pelas famílias, e quatro de pessoas sem identificação ou familiares conhecidos.

A explicação, contudo, não responde ao questionamento central: como um corpo pode permanecer dez meses em um hospital público sem qualquer providência? O episódio revela o abismo entre a precarização da saúde municipal e o respeito devido à dignidade humana.


Crise na saúde pública e impacto social

O caso do Hospital Salgado Filho não é isolado. Há anos, denúncias de superlotação, falta de insumos e abandono de pacientes circulam em diferentes unidades do Rio. A descoberta dos corpos mumificados é o retrato mais cruel dessa crise: um sistema que falha não apenas em cuidar dos vivos, mas também em tratar os mortos com dignidade.

“O estado em que os corpos foram encontrados é inaceitável e aponta para negligência institucionalizada”, avaliou um investigador ouvido pela reportagem.

O episódio pressiona a Prefeitura do Rio a dar explicações mais consistentes e a reforçar mecanismos de fiscalização interna, já que o abandono de cadáveres pode ocultar falhas administrativas e até fraudes ligadas à gestão hospitalar.


O que está em jogo

A investigação não trata apenas de corpos esquecidos em câmaras frias. O que está em jogo é a confiança da população em um sistema público que deveria assegurar direitos básicos. Se não há garantias nem para os mortos, o que esperar para os vivos?

Enquanto a Prefeitura tenta minimizar os fatos, a Polícia Civil deve avançar nas apurações. Caso confirmadas as suspeitas de fraude e vilipêndio, a gestão do necrotério pode se tornar alvo de processo criminal, com responsabilização direta dos agentes públicos envolvidos.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.