Empreendedorismo

Turismo nas favelas do Rio ganha guia com foco em empreendedores locais

Lançado pelo Instituto Aupaba, o “Descubra a Favela” mapeia experiências turísticas e culturais em seis comunidades e fortalece a economia criativa

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Rodinha - © Fernando Frazão/Agência Brasil

O turismo nas favelas do Rio de Janeiro ganha um novo capítulo com o lançamento do guia “Descubra a Favela – Um guia para viver as favelas de dentro”, produzido pelo Instituto Aupaba. Disponível gratuitamente em português, inglês e espanhol, o material reúne experiências turísticas, culturais e gastronômicas em seis comunidades da zona sul carioca: Babilônia, Vidigal, Rocinha, Pavão-Pavãozinho, Dona Marta e Providência.

Mais do que um roteiro de visitação, o guia é um manifesto em favor da economia criativa, do empreendedorismo local e da valorização cultural das comunidades, projetando as favelas como polos de inovação e identidade.


H2: Favela como destino e potência criativa

O projeto mapeia bares, restaurantes, projetos sociais e espaços de convivência que movimentam o cotidiano comunitário, oferecendo uma visão real e diversa do Rio de Janeiro — muito além dos cartões-postais tradicionais.

Entre as iniciativas retratadas, o coletivo “Nós do Crochê”, da Rocinha, ganha destaque. O grupo promove a capacitação de mulheres e o fortalecimento de redes solidárias. “Estar presente em um projeto como esse amplia nossa visibilidade, conecta o trabalho a um público mais diverso e valoriza as iniciativas nascidas dentro das comunidades”, afirmou Dayanne Albuquerque, assistente administrativa e integrante do coletivo.

Outro exemplo inspirador é o “Favela Orgânica”, criado pela chef Regina Tchelly há 14 anos. Atuando nas comunidades da Babilônia e do ChapÉu Mangueira, o projeto defende o consumo consciente e o aproveitamento integral dos alimentos — práticas que ultrapassaram fronteiras e hoje inspiram políticas de sustentabilidade em outros estados e países.

Esses exemplos reforçam que o turismo comunitário pode ser instrumento de autonomia econômica e transformação social, desde que os moradores sejam os protagonistas da narrativa e dos benefícios.


Turismo comunitário e integração social

A presidente e cofundadora do Instituto Aupaba, Luciana de Lamare, define o guia como uma ponte entre o “asfalto” e o morro. “A força do empreendedorismo das favelas também coloca o carioca como parte desse contexto de consumo e de participação coletiva, onde todos são convidados a frequentar as favelas na medida em que esses serviços são interessantes de serem reconhecidos, tanto quanto o asfalto”, afirmou.

Lamare ressalta que o guia é também um instrumento de escuta e política pública. Ao mapear empreendedores e iniciativas locais, o projeto oferece dados concretos sobre o que precisa ser fortalecido em termos de infraestrutura, crédito e capacitação. “A ideia é gerar maior integração entre o que está acontecendo na favela e no asfalto, e melhorar a percepção do empreendedor dentro do contexto comunitário”, completou.

Essa abordagem dialoga com a proposta de turismo sustentável, reconhecida pela Organização Mundial do Turismo como ferramenta de inclusão e redução das desigualdades. Ao promover circuitos locais, o guia estimula a circulação de renda dentro das próprias comunidades e ajuda a romper estigmas históricos.



Identidade, sustentabilidade e reconhecimento global

O “Descubra a Favela” foi concebido como um produto de alcance internacional. Ao disponibilizar versões em três idiomas, o Instituto Aupaba amplia a visibilidade das comunidades cariocas no cenário global e estimula o turismo de base comunitária, um modelo que prioriza a preservação ambiental, a cultura local e a justiça social.

O projeto reforça que a favela não é apenas um espaço de resistência, mas de criação, inovação e potência cultural. A iniciativa também convida gestores públicos, pesquisadores e agentes do setor turístico a repensar políticas de mobilidade, segurança e inclusão nas comunidades — questões centrais para consolidar o turismo comunitário como política de Estado.

Além disso, a proposta se conecta a debates mais amplos sobre desenvolvimento urbano e economia criativa, já abordados em pautas do Diário Carioca sobre /cultura, /economia e /rio-de-janeiro.


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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.