Campanha para coagir autoridades
A Polícia Federal (PF) identificou que o pastor Silas Malafaia encomendou ao publicitário Duda Lima — marqueteiro do PL e responsável pela campanha de Jair Bolsonaro em 2022 — a produção de um vídeo político destinado a pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional.
O conteúdo, que fazia uma ligação falsa entre o fim das tarifas impostas por Donald Trump ao Brasil e a defesa da anistia aos golpistas de 8 de janeiro, foi classificado no relatório final da PF como parte de uma “campanha orquestrada” para coagir autoridades e obstruir a Justiça, segundo a Folha de S.Paulo.
Mensagens revelam coordenação com Bolsonaro

Mensagens interceptadas pela investigação mostram Malafaia e Bolsonaro atuando juntos na elaboração da peça publicitária. O pastor escreveu ao ex-presidente pedindo que Duda Lima “inventasse uma frase” que unisse os temas da “anistia já” e da “queda das taxas”, explorando uma narrativa de perseguição política.
“Tem que juntar a taxa com a questão da anistia. É a carta de Trump, não vão ter como dizer que é fake. Falei isso para o marqueteiro Duda”, escreveu Malafaia.
O publicitário teria respondido com o esboço de um vídeo e um banner, lançados poucos dias depois nas redes do pastor.
Peça publicitária usava imagem de Trump
O vídeo afirmava que “prender patriotas é injusto, calar vozes é censura e perseguir Bolsonaro é vergonha internacional”, usando imagens de Donald Trump e o slogan:
“O Brasil da liberdade não será taxado. Anistia para os inocentes.”
De acordo com o relatório da PF, a campanha buscava pressionar o STF e o Congresso para conceder anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, sob o disfarce de um movimento popular pela “liberdade”.
PF vê “campanha orquestrada” e tentativa de obstrução
O documento oficial da PF destaca que o material foi parte de uma ação deliberada de coação institucional, com o objetivo de “constranger ministros do STF e parlamentares a promover impunidade aos envolvidos em crimes contra o Estado democrático de Direito”.
Malafaia é investigado por coação e obstrução de Justiça no inquérito das milícias digitais. Apesar disso, admitiu à Folha ter encomendado o vídeo, mas negou crime e manteve ataques ao Supremo e ao ministro Alexandre de Moraes.
“Quer dizer que a esquerda pode fazer o que quiser e nós não podemos nos defender? Isso é uma safadeza cretina”, afirmou o pastor.
Duda Lima e o financiamento bolsonarista
O publicitário Duda Lima também é citado no relatório. Ele afirmou em nota que trabalha “contra o governo Lula”, mas negou que o vídeo tenha violado qualquer “regramento jurídico”.
Sua ligação com o bolsonarismo, no entanto, é notória: suas agências receberam R$ 1,5 milhão do PL em 2024, além de R$ 8,3 milhões pela campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, apadrinhada por Valdemar Costa Neto.
Bolsonarismo repete estratégia de desinformação
Condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, Bolsonaro continua a se dizer vítima de perseguição e usa aliados como Malafaia e Duda Lima para manipular a opinião pública.
A “campanha da anistia” — apresentada como peça publicitária — evidencia o padrão bolsonarista de ação: propaganda, mentira e pressão sobre instituições democráticas.



