PF faz operação contra corrupção em emendas enquanto Motta e Alcolumbre pressionam Dino

Investigação atinge prefeitos e assessor de deputado por desvios ligados às emendas Pix; audiência no STF debate transparência

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Foto: Saulo Cruz/Agência Senado

Brasília, 27 de junho de 2025 – A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã desta sexta-feira (27) uma operação contra um esquema de corrupção envolvendo emendas parlamentares, no mesmo dia em que os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), participam de audiência pública com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino para discutir a regulamentação dessas mesmas emendas.

A investigação mira recursos enviados pelo deputado federal Félix Mendonça (PDT-BA) a municípios do interior da Bahia. Foram afastados de suas funções os prefeitos de Ibipitanga, Humberto Raimundo Rodrigues de Oliveira (PT), e de Boquira, Alan Machado (Podemos), além de um assessor direto do parlamentar, Marcelo Chaves Gomes. O ex-prefeito de Paratinga, Marcel José Carneiro de Carvalho, também foi alvo de mandado de busca.

Segundo a PF, a operação batizada de “Overclean” apura crimes como organização criminosa, corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e lavagem de dinheiro. A ação foi conduzida em parceria com a Receita Federal (RF) e a Controladoria-Geral da União (CGU), com 16 mandados de busca e apreensão e três afastamentos cautelares de servidores públicos, todos expedidos pelo STF.

Emendas sob suspeita e ofensiva judicial

O núcleo investigado teria atuado entre 2021 e 2024 na liberação de emendas parlamentares mediante pagamento de propina e manipulação de licitações. O caso traz à tona os riscos do modelo de repasse das chamadas “emendas Pix” – recurso defendido com vigor por Alcolumbre e Motta, que hoje tentam pressionar o STF para manter a obrigatoriedade das transferências sem transparência.

A audiência conduzida por Flávio Dino foi motivada por questionamento do PSOL e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que apontam um crescimento explosivo das emendas como vetor de corrupção e favorecimento eleitoral, especialmente nas bases controladas pelo Centrão.

Durante o evento, Dino reiterou que a pauta se restringe a aspectos jurídicos da regulamentação e não julga individualmente suspeitas de corrupção. Contudo, o simbolismo da operação da PF no mesmo dia expôs o conflito direto entre o Executivo, o Judiciário e o Congresso na disputa pelo controle do orçamento.

Estratégia do Centrão: blindar privilégios e sufocar o Executivo

A ofensiva do Congresso sobre o STF também é parte de uma estratégia mais ampla do Centrão e da bancada bolsonarista para sufocar o governo Lula e blindar o uso político das emendas. Como mostrou o Diário Carioca, a derrubada do decreto do IOF e o aumento no número de deputados fazem parte de um conjunto de manobras articuladas por lideranças como Ciro Nogueira (PP-PI) e Antônio Rueda (União).

Esses movimentos contam com apoio da Faria Lima e da mídia neoliberal, que pressionam por cortes em programas sociais e resistem ao aumento de impostos para os mais ricos. O Centrão se aproveita da chantagem orçamentária, exigindo execução obrigatória de bilhões em emendas – muitas vezes sem transparência – para manter sua base eleitoral.

Mesmo com o empenho de R$ 1,7 bilhão em emendas para 347 parlamentares na tentativa de aprovar o decreto do IOF, Hugo Motta e Davi Alcolumbre conduziram sessões relâmpago para derrubá-lo, beneficiando os mais ricos e enfraquecendo a arrecadação federal.

Caminho da impunidade: PL da Anistia e ameaça a Dino

Nos bastidores, Motta teria se comprometido com aliados bolsonaristas a pautar o PL da Anistia nas próximas semanas. O projeto visa perdoar envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, em mais um aceno ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Flávio Dino, por sua vez, passou a figurar como alvo da oposição no STF. Caso a direita vença em 2026, integrantes do Centrão articulam abertura de processos de impeachment contra ministros que hoje atuam para controlar o uso político do orçamento federal.

A operação Overclean mostra que, mesmo com o avanço conservador no Congresso, o sistema de Justiça segue atento ao desvio de recursos públicos. O Diário Carioca seguirá acompanhando os desdobramentos do caso.


O Carioca Esclarece Emendas Pix são transferências de recursos federais para municípios sem necessidade de convênio, criadas no governo Bolsonaro. A falta de transparência permite ocultar os autores e facilita desvios.


FAQ – Perguntas Frequentes

O que é a operação Overclean?
É uma ação da PF contra esquema de corrupção ligado a emendas parlamentares em municípios da Bahia.

Quem são os investigados?
Prefeitos de Boquira e Ibipitanga, um assessor do deputado Félix Mendonça (PDT-BA) e o ex-prefeito de Paratinga.

Qual a relação com Alcolumbre e Motta?
Eles defendem em audiência no STF o modelo de emendas usado no esquema investigado, pressionando para manter sua obrigatoriedade.


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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.