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Megaoperação no Rio: nenhum dos 115 mortos consta em decisão judicial que autorizou prisões

Perfil divulgado pelo governo inclui 115 suspeitos mortos, mas ordem judicial previa prisão de apenas 58 alvos ligados ao Comando Vermelho

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
© Tomaz Silva/Agência Brasil

O Governo do Rio de Janeiro, por meio da Polícia Civil, divulgou nesta semana o perfil de 115 suspeitos mortos na megaoperação realizada na última terça-feira (28), que também resultou na morte de quatro policiais. Entretanto, uma análise da decisão judicial da 42ª Vara Criminal que autorizou a ação revela que nenhum dos 115 nomes consta entre os 58 réus com prisão preventiva decretada.

A operação tinha como objetivo desarticular o Comando Vermelho (CV) no Complexo da Penha, focando em lideranças denunciadas por associação para o tráfico e tortura. Entre os presos decretados pela Justiça estavam Edgar Alves de Andrade, vulgo “Doca” e “Urso”, e Pedro Paulo Guedes, o “Pedro Bala”, além de outros gerentes e soldados do tráfico.

Segundo a Polícia Civil, 97 dos 115 mortos possuíam passagem criminal, a maioria por tráfico, e 59 tinham mandados de prisão em aberto. O governo do estado informou ainda que mais de 95% tinham vínculo comprovado com o CV, sendo que em alguns casos a ligação foi identificada por meio de fotos em redes sociais, mesmo sem histórico criminal.

O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, afirmou que a investigação prossegue e que todos os resultados estão sendo documentados para garantir transparência e legalidade:

“Essa mínima fração de narcoterroristas neutralizados que não possuíam anotações criminais, nem imagens em redes sociais portando armas ou demonstrando vínculo com facções criminosas não significa nada. Se eles não tivessem reagido à abordagem dos policiais, teriam sido presos em flagrante pelo porte de fuzis, granadas e artefatos explosivos, por tentativa de homicídio contra os agentes de segurança e também pelos crimes de organização criminosa e associação para o tráfico de drogas. Portanto, são narcoterroristas que saíram do anonimato.”


Perfil das vítimas e operação

A análise divulgada pelo governo indica que as idades dos mortos variam de 14 a 55 anos, com predominância de jovens entre 20 e 30 anos. Entre os 112 identificados com data de nascimento, dois eram menores de 18 anos e três tinham mais de 40 anos, com média de idade de 28 anos.

A megaoperação, chamada “Contenção”, mobilizou cerca de 2.500 agentes das Polícias Civil e Militar, com o objetivo de combater a expansão territorial do CV e cumprir aproximadamente 100 mandados de prisão, incluindo 30 de outros estados. Foram 113 presos, incluindo Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão”, braço direito do líder do CV, “Doca”. As apreensões somaram 118 armas, sendo 91 fuzis.

O dia da ação foi marcado por confrontos intensos e caos urbano, com fechamento de escolas e desvios no transporte público. O saldo de 121 mortos tornou a operação a mais letal da história recente do Brasil, superando o Massacre do Carandiru.

Em resposta à crise, os governos federal e estadual anunciaram a criação de um escritório conjunto para intensificar a cooperação no combate ao crime organizado.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.