BRASÍLIA, 28 de julho de 2025 – Diálogos extraídos do celular do ex-presidente Jair Bolsonaro, obtidos pela Polícia Federal durante investigação sobre fraudes em certificados de vacina, revelam articulações golpistas conduzidas por ele após a derrota nas urnas em 2022.
O conteúdo, divulgado nesta segunda-feira (28) pelo jornalista Aguirre Talento, no Estadão, expõe bastidores de uma ofensiva contra instituições democráticas, com participação de parlamentares, empresários do agronegócio e até diplomatas estrangeiros.
Bolsonaro orientou ofensiva contra Moraes e o STF
As mensagens analisadas pela Polícia Federal mostram Jair Bolsonaro instruindo diretamente o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) a assinar um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o ministro Alexandre de Moraes e outros integrantes do Supremo Tribunal Federal. O movimento fazia parte de uma estratégia coordenada para deslegitimar o Judiciário e mobilizar sua base parlamentar em torno de uma agenda de confronto institucional.
O diálogo, resgatado pela PF, revela ainda que Bolsonaro manteve influência ativa sobre parlamentares mesmo após deixar o cargo, operando como liderança informal da extrema direita dentro do Congresso.
Derrota do PL das Fake News foi articulada com Eduardo
Em outra frente, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) aparece como operador de uma manobra para derrubar o Projeto de Lei das Fake News na Câmara dos Deputados. Em conversa direta com o pai, Eduardo recebe instruções sobre como articular o bloqueio da proposta, considerada estratégica por instituições democráticas para conter a desinformação digital no país.
A articulação contra o projeto envolveu a disseminação de conteúdo distorcido, pressões sobre parlamentares e apoio de setores interessados em manter a circulação irrestrita de desinformação nas redes sociais.
Agronegócio bancou e protegeu Bolsonaro após 2022
As mensagens recuperadas revelam também o papel do agronegócio como pilar financeiro e logístico do bolsonarismo após a derrota eleitoral. Em troca de fidelidade ideológica, empresários do setor ofereceram abrigo e financiamento a Bolsonaro.

Uma das conversas mostra Bolsonaro dialogando com o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa, sobre como mobilizar o agro para sustentar manifestações e acampamentos golpistas. Ele chegou a ser hospedado em uma fazenda pertencente ao empresário Paulo Junqueira, investigado por financiar a estadia do ex-presidente nos Estados Unidos com dinheiro vivo.
Gabinete do Ódio e vídeos do 8 de Janeiro
Bolsonaro demonstrava preocupação com o conteúdo compartilhado nas redes sociais sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Em conversa com Tércio Arnaud, ex-assessor conhecido por atuar no chamado “Gabinete do Ódio”, o ex-presidente pergunta se determinado vídeo poderia ser publicado sem prejudicá-lo judicialmente.

O cuidado revela a consciência de Bolsonaro sobre sua exposição penal e sua tentativa de manter influência pública sem assumir riscos legais diretos. O episódio reforça a tese de que o ex-presidente não apenas tolerou, mas monitorou e orientou a disseminação de conteúdo golpista.
Ex-embaixador ofereceu viagem a Israel com tudo pago
Outro trecho das conversas interceptadas mostra o ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, oferecendo uma viagem ao país com todas as despesas custeadas. Bolsonaro encaminhou o convite à esposa, Michelle Bolsonaro, mas não respondeu se aceitaria a proposta.
A interlocução sugere um elo diplomático informal utilizado pelo ex-presidente para manter capital simbólico junto a aliados internacionais mesmo fora do poder.

A defesa de Jair Bolsonaro foi procurada, mas não quis comentar o conteúdo das mensagens reveladas.
Perguntas frequentes (FAQ)
O que mostram as mensagens encontradas no celular de Jair Bolsonaro?
As mensagens revelam articulações políticas com fins golpistas, como ataques ao STF, sabotagem ao PL das Fake News e apoio logístico de empresários do agronegócio.
Qual foi o papel do agronegócio nas articulações de Bolsonaro?
Empresários do setor ofereceram abrigo, recursos financeiros e suporte estratégico para ações antidemocráticas após a derrota eleitoral de 2022.
Por que Bolsonaro temia a divulgação de vídeos do 8 de Janeiro?
Ele temia implicações jurídicas e buscava blindar sua imagem, consultando assessores sobre o risco de divulgar certos conteúdos nas redes sociais.
Qual foi o envolvimento de Eduardo Bolsonaro?
O deputado atuou para derrubar o PL das Fake News na Câmara, seguindo orientações diretas do pai, numa ação coordenada com a base bolsonarista.
Quem é Yossi Shelley e por que sua oferta é relevante?
Shelley é ex-embaixador de Israel e ofereceu viagem paga a Bolsonaro, o que indica tentativas de articulação diplomática paralela com aliados internacionais.

